Viveiros Marionnet: 130 anos de inovação

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Parece que os 130 anos de existência não passaram pelo viveiro francês Marionnet sarl, especialista em morango e framboesa que, ao fim de 4 gerações, é atualmente gerido por Pascal Marionnet, que nos recebeu na sede da empresa, no centro da França, em Soings-en-Sologne.

Por Bernardo Madeira

Terá sido Alexandre Marionnet que fundou a empresa, inicialmente dedicada especialmente à produção de espargo e morango, sobretudo na vertente da produção de fruto e não de plantas, atividade que foi surgindo progressivamente até que se deu a sua especialização completa como viveirista no final dos anos 60 por decisão de Jaques Marionnet (pai de Pascal).

É então que, com grande visão de futuro, é simultaneamente decidida a instalação de um laboratório de multiplicação em vitro, que terá sido o primeiro a funcionar em França à escala comercial. Inicialmente, as opções mantinham-se no morango e no espargo, visto esta região francesa ser, até então, muito forte na produção de espargo.

Foi nesse período que o viveiro lançou a mais célebre variedade de morango de sobremesa, o “Mara des Bois”, célebre em toda a Europa, e muito especialmente em França, pela qualidade da sua fragrância e doçura, que lembra um pouco o elitista morango dos bosques. (Curiosidade pouco conhecida certamente, será o facto de Thierry Roussel ter introduzido a variedade em Portugal no empreendimento da Oderfruta que, apesar do malogro económico foi a semente que frutificou na importante fileira de pequenos frutos que aquela região detém).

Pascal Marionnet sublinha que «é grande a diferença entre os morangos franceses e ingleses, em relação aos morangos espanhóis. Estes últimos provêm de genética dos EUA, focada sobretudo na conservação pós colheita, para suportar as grandes viagens de camião que aquele país continental obriga, menosprezando o sabor e a qualidade do morango de sobremesa. Para o francês o sabor é o primeiro critério».

Por volta do ano 2000 a empresa deixou de trabalhar no melhoramento do espargo (embora se mantenha como multiplicadora) e começou um novo programa de melhoramento acelerado de cultivares de framboesa, tendo os primeiros clores comerciais aparecido cerca de uma década depois, e batizados de Paris e Versailles, duas cultivares já bem conhecidas dos produtores de Portugal, introduzidas pela mão da AGRIMINHO e da Delícias do Tojal, os dois únicos revendedores autorizados em Portugal a trabalhar a variedade neste país.

Pascal Marionnet enfatiza: «repare que há no mercado variedades de framboesa com excelente aparência e boa conservação, por exemplo de genética espanhola porém, quanto ao gosto, elas são muito dececionantes. E o francês que compra este tipo de fruta não está apenas à procura de fruta, procura uma experiência de prazer, de equilíbrio de acidez e açúcares envolto num perfume que seja perfeito. É um mercado muito exigente de qualidade, daí as nossas variedades se encaixarem perfeitamente nesse perfil. Se a fruta vai ser apresentada ao consumidor a 10-12€/kg a experiência tem que valer o custo!».

As duas variedades de framboesa têm-se mostrado muito rústicas e particularmente resistentes a todas as doenças que afetam a framboesa. Tolerantes à ferrugem, mesmo a americana, que mais ataca em Portugal, e em boas condições de cultivo à phythophtora, cumprem, desta forma, o objetivo primeiro que é reduzir as necessidades de fármacos e intervenções culturais.

Embora a Paris pareça ser uma variedade mais produtiva, que mais rapidamente conquistou o interesse dos produtores, a Versailles é a variedade que está, de facto, a fazer um caminho mais lento mas de maior consistência em termos de afirmação nos mercados mais exigentes que procuram um fruto grande e, simultaneamente, muito perfumado com sabor verdadeiramente característico a framboesa. Porém, o tempo é de mudança nos mercados de pequenos frutos, e o testemunho em breve começará a ser repassado a novas variedades que estamos a encontrar.

Porém, o carro chefe do viveiro é o morango, o qual sentiu também um súbito impulso de visibilidade com o lançamento das variedades Magnum (não remontante) e Mariguette (remontante).

O sucesso destas variedades é tão grande que são vendidos cerca de 40 milhões de pés por ano! A variedade Marigette é especialmente apreciada pelo mercado francês, pelas suas qualidades gourmands, sendo 8€/kg o preço médio pago ao produtor (em França), seja com destino aos grandes armazéns seja na produção para venda a retalho.

Lembre-se que esta variedade resulta do cruzamento entre os ancestrais do Mara des Bois com o Gariguette, um morango que se tornou célebre durante décadas. O resultado, de 10 anos de seleção foi lançado comercialmente em 2013 alcançando, em França, o lugar de primaz nos morangos.

Curiosamente, o mercado francês representará, talvez, 70% das plantas de morango vendidas pelo viveiro, repartindo-se o restante por Marrocos (onde estão associados a um parceiro local), e Península Ibérica em menor parte. Em compensação, atualmente o destino das vendas de plantas de framboesa é sobretudo exterior, e menos de 20% o mercado francês.

Atualmente a empresa pensa alargar o destino da sua genética a outros continentes, adotando, eventualmente, outros modelos de trabalho. Com um mercado globalizado, mesmo ao nível do comércio de fruto, não fará sentido manter-se a limitação à Europa e Norte de África para uma empresa com esta solidez.

O programa de melhoramento (que é sempre um processo muito longo) libertará em 2 anos, no mercado novas variedades, quer de morango quer de framboesa, que irão surpreender pela sua rusticidade (pois é objetivo que as novas variedades tenham menores requisitos de produtos fitofarmacêuticos) e melhor produtividade (palavras de Pascal Marionnet).

Algo que impressiona o visitante do centro de melhoramento é a organização e asseio do espaço, impecavelmente organizado, expressando claramente o rigor que é dado ao trabalho. Recorde-se que se trata de uma empresa que dispõe de 300 hectares de viveiro de multiplicação e cerca de 13.000m3 de câmaras de frio, para preparação das plantas. Um exemplo de perspicácia e estabilidade a seguir!

Nota de Redação:

A visita a esta exploração decorreu a convite dos Viveiros Marionnet.

Entrevista publicada no suplemento n.º 24 da Pequenos Frutos.

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