Por: Patrick Materatski, Maria Rorário Félix, Maria Doroteia Campos, Natália Marques, Maria Invone Clara, Gustavo Nolasco e Carla Varanda
A oliveira (Olea europaea L.) é uma das culturas perenes mais cultivadas em todo o mundo, com mais de 95% de área cultivada em países de climas mediterrâneos. Portugal é o quarto maior produtor de azeitona da União Europeia (quase 6% da produção mundial), numa área de 3520km2, que representa 4% da área mundial dedicada a esta cultura. Em Portugal, a região do Alentejo atinge cerca de 50% da área total de olivicultura e cerca de 75% da produção nacional de azeitona.
Em 2016/2017 Portugal atingiu um novo máximo histórico na campanha oleícola, com a produção de azeite a ultrapassar 1,47 milhões de hectolitros. Apesar do recente aumento da área cultivada no modo de exploração super intensivo em que são utilizadas as cultivares espanholas, "Picual" e "Arbequina", a cultivar portuguesa "Galega vulgar" ainda é a mais cultivada em território nacional, nos modos de exploração tradicional e intensivo. A oliveira em geral e em particular a cultivar "Galega vulgar" são afetadas por várias doenças, embora a antracnose da oliveira (=gafa da azeitona) permaneça como a mais devastadora, capaz de causar destruição dos frutos infetados e depreciação da qualidade do azeite.
Um grande número de espécies de fungos pertencentes aos complexos Colletotrichum acutatum e C. gloeosporioides estão associados à antracnose em oliveira, embora em Portugal algumas espécies pertencentes ao complexo C. acutatum sejam as mais comummente associadas à doença. Em condições ideais de temperatura e humidade o fungo apresenta o seu máximo crescimento e os frutos começam a desenvolver lesões escuras, circulares e necróticas com produção abundante de esporos que se agrupam em estruturas alaranjadas na superfície (Figura 1), levando à queda prematura dos frutos e/ou à mumificação destes nos ramos, frequentemente levando a perdas totais de produção. Apesar da antracnose em oliveira afetar os frutos próximo da fase de maturação, o fungo também pode estar presente em flores, folhas, gomos e ramos (Figura 1).
Figura 1. Sintomas de antracnose em oliveira. Da esquerda para a direita: Ramos e Folhas com sintomas de Antracnose; Frutos com lesões escuras, circulares e necróticas; Frutos com produção abundante de esporos alaranjados na superfície (olivediseases.com).
O projeto – GAFAPROTECT – a decorrer entre outubro de 2018 e outubro de 2021, pretende desenvolver uma tecnologia inovadora para combater de forma eficaz fungos Colletotrichum spp., causadores da antracnose em oliveira. A tecnologia a ser desenvolvida é baseada na utilização de vírus de plantas de oliveira, que se tenham mostrado inofensivos. Estes vírus serão manipulados para ser utilizados como vetores de forma a introduzir na planta, e consequentemente no fungo que se encontra no seu interior, informação genética de Colletotrichum spp. Tal será realizado com recurso ao silenciamento de genes induzido por vírus (VIGS), que permite o silenciamento específico de genes, ou seja, neste caso, e no projeto em questão, o fungo ao ser inoculado com o vírus, irá acionar um sistema de defesa, incluindo a informação genética do próprio fungo que foi introduzida no vírus vector. Uma vez o mecanismo iniciado, o fungo irá continuamente eliminar cópias desta informação, incluindo parte do seu próprio genoma, e desta forma, autodestruir-se.
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Nota: Artigo publicado na edição impressa da Agrotec 32.
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Fonte: Agrotec
