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O terceiro, e último, protótipo do VinScout vai começar a ser construído e os investigadores estão satisfeitos com os progressos feitos até agora. O responsável da Symington de I&D na Viticultura explica-nos que o objetivo é “termos informação simples que permita ao viticultor atuar e tomar decisões de forma rápida”.
O VinScout é um projeto de um robô autónomo capaz de fazer medições de parâmetros chave da vinha e dar dados aos vitivinicultores sobre a produção. “Queremos um modelo de aplicação simples, informação de leitura rápida, que possa ser recolhida de manhã e duas horas depois possamos ter uma reunião por Skype e tomarmos decisões”, exemplifica Fernando Alves, após vários testes de campo que a equipa esteve a fazer este verão na Quinta do Ataíde, em Vila Flor.
O responsável pelo projeto VinScout, Francisco Rovira-Más, da Universidade Politécnica de Valência, conta à VIDA RURAL “este é um projeto pioneiro porque não depende de satélites, nem aviões, que pode funcionar quando o agricultor quiser”. E adianta: “Ainda vamos trabalhar para simplificar a câmara multiespectral que estamos a usar, porque neste momento tem oito bandas e só estamos a usar duas”, para simplificar os processos e, igualmente, tornar o equipamento mais acessível. O coordenador do projeto diz-nos que “o nosso objetivo é chegarmos a um preço final entre os 18.000 e os 20.000 euros”.
Do consórcio fazem ainda parte a Universidade da Rioja e duas empresas tecnológicas que poderão vir a comercializar o robô: a francesa Wall-Ye SARL e a britânica Sundance Multiprocessor Technology.
Afinar algoritmo e capacidade de viragem
Francisco Rovira-Más, especialista em robótica e engenharia agrícola, afirma que o projeto está a entrar no seu último ano, com a meta de construir um protótipo viável que possa ser cedido às empresas do consórcio para que possam produzir e comercializar o VinScout em larga escala.
O robô tem placas solares e baterias de lítio, que carregam durante a noite. “Neste momento, a câmara só funciona de dia mas estamos a trabalhar para ver se é viável, e rentável, tem luz para poder funcionar também durante a noite, para assim podermos comparar as leituras em diferentes alturas”.
Devido à parceria com a Symington a maioria dos testes de campo têm sido efetuados no Douro, mais especificamente na Quinta do Ataíde, mas “este ano também fizemos testes na Rioja e uma das áreas que vamos trabalhar para aperfeiçoar a perceção do robô nas cabeceiras, para aumentar a capacidade e rapidez de viragem”.
O responsável refere que “vamos também trabalhar no algoritmo de tratamento dos dados, porque queremos que o agricultor entenda os dados e que estes lhe sejam efetivamente úteis” e diz ainda o robô será também útil no atual quadro de alterações climáticas e de escassez de água, porque “vamos conseguir entender melhor como funciona a planta, como reage às altas temperaturas que, cada vez mais, se têm feito sentir e que podem mudar o panorama de toda a viticultura do sul da Europa”.
O VinScout este ano ‘apanhou’ já dois picos de calor, em julho e agosto, pelo que os investigadores poderão perceber como reagem as plantas ao analisarem os dados, mas também o próprio robô.
Francisco Rovira-Más confessa também que uma das suas ambições com este projeto é trazer mais jovens à envelhecida agricultura europeia, atraídos pela tecnologia que irá facilitar em muito as operações no campo.
Fazer vinho por zonas
Para o responsável da Symington de I&D na Viticultura, além da informação simples, uma das vantagens deste projeto é “a possibilidade de dividir as parcelas em duas ou três zonas homogéneas, podendo assim fazer-se uma vindima seletiva, selecionando o tipo de uvas corretas para cada tipo de vinho, adicionando assim mais valor ao produto”. Fernando Alves acrescenta que “assim podemos não ‘desperdiçar’ uvas de excelente qualidade em vinhos menos diferenciados”. A ideia é poderem-se fazer mapas simples mostrando que “daqui ali são uvas do tipo A, dali a acolá são do tipo B, etc.
Outra vantagem apontada é ao nível da economia da água “porque podemos conhecer de forma mais profunda o estado hídrico da planta, que é o ‘pulmão’ de funcionamento fisiológico e metabólico de uma planta, ajudando assim a gerir a água na planta e de forma mais ampla este recurso cada vez mais escasso”.
Para Fernando Alves, o VinScout vem também trazer grande economia nos tempos de operação face aos métodos clássicos na monitorização contínua do estado da vinha. “Usando a habitual câmara de pressão, que permite medir o estado energético da água no interior da planta, um colaborador conseguirá (antes do nascer do dia que é quando a leitura é mais eficiente) recolher dados – exigentes na interpretação – de 20 a 25 pontos por hora. Já a capacidade dos sensores do robô permitem recolher mais de 3.000 pontos por hora”.
Mais velocidade de operação
Por último, o responsável da Symington salienta a capacidade de o VinScout também medir “o índice de vegetação da vinha, que se relaciona com a biomassa e o azoto, bem como alguns nutrientes que nos mostram o estado da planta”, frisando: “Podemos assim fazer cartas de NDVI ao nível do solo, ver a planta de lado e de forma direcionada, porque assim conseguimos apanhar a ‘parede de vegetação’ na sua totalidade e não apenas no topo”.
Fernando Alves considera que esta ferramenta pode ajudar muito a preparar a vitivinicultura para as alterações climáticas.
Em termos de fragilidades da máquina, refere que “necessitamos de mais velocidade de operação, mas sabemos que isso depende de fatores complexos, como a capacidade de resposta dos sensores e da máquina processar a informação de forma eficiente”.
Um dos objetivos, salienta Fernando Alves, é precisamente “aumentar a eficiência em termos de medição e robustez do equipamento, bem como da sua capacidade de circulação em ambientes adversos”. O responsável de I&D na Viticultura daquele grande grupo produtor de Vinho do Porto e do Douro lembra que o robô funcionou este verão em condições extremas e teve uma performance positiva, no entanto, “para lhe dar ainda mais robustez, a equipa vai repensar o sistema de refrigeração e aumentar a proteção de alguns componentes”.
Para o protótipo final, “o objetivo é que fique completamente autónomo, recolha dados e que ao fim de uma hora se possam passar para uma pen e imprimir”, para que o agricultor os possa usar na sua tomada de decisão, de forma simples e direta. Fernando Alves especifica que se está a falar de dados que podem ajudar na decisão de rega, que indicam o nível dos nutrientes na planta (medidos sensores da câmara multiespectral, RGB e com bandas específicas), como o azoto, bem como mapas de temperatura da vegetação, que “ajudam a compreender a dinâmica da transpiração”, mas tudo isto, frisa “está a ser ‘traduzido’ pelos algoritmos para forma simples para o viticultor”.