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O equilíbrio entre o aumento da população a nível mundial e os recursos de produção limitados deverá ser alcançado, acredita Robert Opp, diretor de inovação e gestão da mudança do programa Alimentar Mundial WPF. O responsável aponta o dedo ao desperdício. Acabar com o desperdício representaria um ganho assinalável. Com o recurso a novas tecnologias de informação e comunicações, a produção poderá aumentar.
Como pode a experiência de inovação do Programa Alimentar Mundial (WFP) das Nações Unidas, concretizada em cenários de crise humanitária, contribuir para o desenvolvimento da agricultura em qualquer parte do mundo ou ajudar no rescaldo de desastres naturais como os que ocorreram em Portugal durante o último verão?
A VIDA RURAL foi ao encontro de Robert Opp, diretor de inovação e gestão de mudança do Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas, durante a Web Summit, onde o responsável falou sobre soluções tecnológicas que podem ajudar a acabar com a fome até 2030.
“A uma escala global, há ações que todos devemos tomar para evitar o desperdício alimentar (…) Cerca de um terço de todos alimentos produzidos é desperdiçado”.
Sobre questões como a escassez de recursos num mundo em que a população aumenta, mas os recursos naturais não, Opp está convencido que, se tomadas as medidas adequadas, o problema vai resolver-se. “A uma escala global, há ações que todos devemos tomar para evitar o desperdício alimentar”, assinala. Porque “cerca de um terço de todos alimentos produzidos é desperdiçado”.
“Se se reduzir o desperdício e se se melhorar a eficiência da agricultura propriamente dita” então, “vamos conseguir alimentar a população em crescimento. Acho mesmo. O conhecimento está aí”, assinala.
Parte da solução passa então pela redução do desperdício alimentar. Um fenómeno transversal a países desenvolvidos e em vias de desenvolvimento. Nos países desenvolvidos o desperdício deve-se ao sobre consumo. Nos países menos desenvolvidos o problema é completamente diferente: apesar de ser produzida, “devido à ineficiência dos mercados alimentares, a comida perde-se. Como não há como armazenar a comida em condições, como não há como transportar a comida eficientemente, muitas vezes os alimentos acabam no lixo, estragados, antes de chegar ao mercado”.
Sendo assim, a primeira coisa a fazer é “combater o desperdício alimentar, o que nos dará um aumento de produtividade imediato de 30%”. Em seguida, deve procurar tornar-se a agricultura “tão eficiente quanto possível. Daí que a ideia de ter agricultura inteligente, com sensores de internet das coisas” seja o caminho. “Se se souber quais são as condições do solo pode ajustar-se os fertilizantes, a rega, e tornar tudo mais eficiente”. Referindo um dos projetos do WFP, Opp dá o exemplo da exploração da hidroponia, “uma forma muito eficiente de produzir alimentos em zonas áridas. Temos visto muito sucesso em campos de refugiados na Argélia e estamos a levar esse trabalho para o Chade e para o Sudão”.
O WFP tem um orçamento anual para investir em tecnologias e inovação de cerca de cinco milhões de euros, atribuído pelo governo alemão. Este valor permite à organização “desenvolver o acelerador de inovação” e várias dezenas de projetos – alguns já no terreno, outros em fase de prova de conceito e outros planeados – com o objetivo de apoiar entre 80 e 100 milhões de pessoas em zonas de conflito ou em contexto de desenvolvimento de longo prazo. Além daquele valor, e devido à dimensão da organização (a agência de assistência de alimentação das Nações Unidas está presente em 80 países e tem 15 mil colaboradores), o investimento em inovação é ainda mais elevado.
WFP acelera inovação no combate à fome
O trabalho de Robert Opp é procurar as melhores ideias e encontrar abordagens e tecnologias inovadoras que podem ser utilizadas na WFP. Algumas das iniciativas com as quais a organização está muito entusiasmada são a inteligência artificial e a aprendizagem automática, a conectividade universal, o blockchain ou Internet das Coisas. Estão em desenvolvimento entre 30 e 40 projetos, refere Robert Opp.
A inteligência artificial permite treinar máquinas para conseguir identificar quantas casas foram destruídas, quantas pontes foram destruídas, quantas estradas ficaram inutilizadas após um incidente para poder agir com mais eficiência. Através de plataformas digitais o WFP também está a conseguir colocar produtores e compradores em contacto, evitando a deslocação a mercados através de infraestruturas pobres ou destruídas. Através do blockchain a WFP está a conseguir poupar custos nas transações dos refugiados sírios na Jordânia, através da disponibilização de vouchers digitais sem intermediários. Finalmente, no futuro, projetos de Internet das Coisas e sensores serão utilizados para monitorizar a qualidade dos solos para ajudar os agricultores nas zonas em que o WFP intervém. “São coisas que devem acontecer para ajudar a reduzir a fome a nível global”, conclui Robert Opp.
Aplicar projetos inovadores de combate à fome no combate a desastres naturais
O que o WFP faz “para responder a emergências [humanitárias] pode ser muito semelhante ao que se pode fazer aquando de incêndios florestais”. “Penso que a deteção precoce é muito importante para dar igualmente uma resposta rápida. É muito importante mesmo”.
“Quanto mais rapidamente se conseguir compreender qual foi o impacto e como é que as pessoas estão ou serão afetadas, melhor se poderá organizar a resposta”, assinala o responsável. “No caso de desastres naturais, como um furacão, é importante, reunir todas as fontes de dados possíveis” para, de imediato, se criar um plano de ação”. Na WFP estão a ser utilizados sistemas de satélites e veículos aéreos não tripulados (drones) para recolher essa informação e criar “planos de ação baseados nas diferenças das imagens” em zonas de conflito.
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