–
A agricultura portuguesa é seguramente um dos setores que terá efeitos mais imediatos e consequentes com as mudanças climáticas que já fazem sentir. Temperaturas a subir, períodos de secas prolongadas, concentração de chuvas, fogos florestais… Num país de clima mediterrânico, com baixos níveis de humidade nos meses de maior calor, e com um interior seriamente desertificado, tudo isto é um rastilho de dimensões inimagináveis. E, se não soubermos reagir a tempo, com consequências dramáticas para a lavoura.
A verdade é que esta questão deixou de estar no centro de discussões teóricas e começamos a trabalhar na prática. Os agricultores mais profissionais já perceberam tudo isto há muito tempo e começam a adaptar as suas explorações para cenários futuros que, em alguns casos, já estão sinalizados no presente. As práticas agrícolas mudaram muitíssimo na última década. A política ‘verde’ europeia deu uma ajuda mas a mudança de mentalidade foi uma alavanca preciosa. Há toda uma nova consciência que leva a uma gestão de conservação, com a palavra sustentabilidade no epicentro. A tecnologia está a ajudar, e muito, na implementação de uma agricultura cada vez mais arrojada a este nível. Arrojada porque, no que diz respeito à ecoinovação, é preciso entender que este não é um conceito acessível a todos. Implica visão, sofisticação, investimento, conhecimento e inovação em permanência, muito profissionalismo e sobretudo resiliência, palavra que encaixa aqui que nem uma luva, sobretudo no contexto da ecologia em que a podemos definir como “aptidão de um determinado sistema para recuperar o equilíbrio depois de ter sofrido uma perturbação”. E o trabalho que temos pela frente é mesmo esse, encontrar a melhor forma para ajudar o sistema a recuperar o equilíbrio perdido.
Felizmente que já conseguimos encontrar, de norte a sul do país, bons exemplos destas práticas. A viticultura é provavelmente o setor mais adiantado. Beneficia muito do facto de trabalhar para a produção de um produto final com valor acrescentado, provavelmente dos produtos ‘agro’ com maior criação de valor. Mas esse facto não tira o mérito aos empresários agrícolas e gestores que souberam preparar as suas explorações para o futuro. Mas aqui não há escolha possível, com maior ou menor atraso, a sustentabilidade é a única garantia de futuro para a agricultura portuguesa. Mesmo.