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Um consórcio, que reuniu organismos públicos e empresas privadas entre 2016 e 2018, trabalhou para desenvolver uma ferramenta que permita gerir a propriedade de forma mais inteligente e precisa, baseada em conhecimento que o próprio campo disponibiliza.
A agricultura de precisão é cada vez mais o método por excelência que os agricultores utilizam para trabalhar a sua terra. O digital deixa de ser algo apenas dos urbanos e de quem trabalha num escritório e está no campo, contribuindo para produções mais rentáveis e sustentáveis.
O projeto “Smart Farming: Ferramenta avançada para operacionalização da agricultura de precisão” tem este cariz tecnológico e teve como objetivo conceber uma ferramenta com a capacidade de processar de forma inteligente, e o mais autónoma possível, múltiplos e diversificados dados, bem como o conhecimento agrónomo e atuar, de forma precisa e eficiente, num conjunto específico de processos agrícolas. A iniciativa, promovida pela ProdFarmer, em parceria com uma equipa de investigadores do INESC TEC – Instituto de Engenharia de Sistemas de Computadores, Tecnologia e Ciência e do Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV), e a colaboração da Herdade do Esporão e da Herdade Maria da Guarda, começou em 2016 e terminou em 2018. Ao longo de dois anos, este consórcio trabalhou no desenvolvimento de uma ferramenta que permitisse ter uma intervenção humana mais reduzida e ser o mais simplista possível. Com o projeto S-FARM, o consórcio pretendeu, assim, constituir um sólido passo para a operacionalização de uma agricultura de precisão.
Smart Farming é “uma ferramenta informática que será comercializada pela ProdFarmer e que pode auxiliar os agricultores na gestão das suas herdades”
Os intervenientes neste projeto tinham as suas tarefas muito bem definidas, aplicando no mesmo o seu conhecimento e experiência comprovada. A ProdFarmer desenvolveu e está a comercializar a plataforma informática que resulta deste projeto. O INIAV foi a fonte de conhecimento agrícola que possui conhecimento no domínio da agricultura e cujos especialistas desenvolveram modelos clássicos, baseado no conhecimento existente, e que também participaram no desenvolvimento de modelos inteligentes, fornecendo conhecimento que permitiu identificar as características/variáveis com maior poder preditivo. O INESC TEC desenvolveu modelos inteligentes, baseados no histórico de dados fornecidos pelas herdades e o hardware de automação e controlo. A Herdade do Esporão forneceu dados da vinha e a Herdade de Maria da Guarda disponibilizou informação sobre o olival. “Estas herdades são especialistas no negócio e são elas que identificaram e pretendem resolver o problema de automação e agricultura de precisão subjacente a este projeto. Estas empresas têm encargos muito elevados, principalmente com a rega, e pretendem uma solução inteligente que ajude a resolver os seus problemas”, explica Carlos Ferreira, responsável pela área de processamento inteligente do Smart Farming.
O orçamento do Smart Farming:
- Custo total elegível – 997.605,84 euros
- Custo elegível INIAV – 382.209,84 euros
- Apoio financeiro da União Europeia – FEDER – 715.927,30 euros
“O projeto foi um sucesso. Deste resultou uma ferramenta informática que será comercializada pela ProdFarmer e que pode auxiliar os agricultores na gestão das suas herdades. Além de outras funcionalidades, neste projeto foram desenvolvidos algoritmos e modelos inteligentes que permitem, por exemplo, prever o potencial hídrico e definir o plano de rega para cada talhão. Também resultou o desenvolvimento de um módulo (hardware) de automação e controlo que permite controlar sistemas de rega/fertirrega. Foi submetido um pedido de patente para este módulo de controlo e automação”, explica Carlos Ferreira, responsável pela área de processamento inteligente do Smart Farming.
A ferramenta final tem várias valências, desde logo permite determinar as necessidades de rega e de fertilização, mas também definir um calendário de operações culturais, calendário de fases fenológicas, evolução da maturação dos frutos e segmentação da colheita. A S-FARM tem ainda a possibilidade de determinar riscos de doenças. As potencialidades deste produto vão um pouco mais além, pois permite que sejam definidas ações que executa de forma autónoma, tais como rega sectorial e de precisão, controlando diretamente cada um dos sistemas de fertilização, determinando as operações culturais necessárias e a sua distribuição geográfica, bem como o cálculo de índice de maturação e determinação automática de zonas e volumes de colheita.
A capacidade desta ferramenta resulta da recolha de dados que foram trabalhados com inteligência, nomeadamente dados topográficos, tipos de solo, exposições, declives, geologia (permeabilidade) e tipo de variedade da cultura, sem nunca ficar de fora a componente meteorológica.
“Como qualquer projeto em áreas emergentes que tem um elevado grau de inovação, é importante que o projeto tenha continuação”
O projeto Smart Farming: Ferramenta avançada para operacionalização da agricultura de precisão” foi cofinanciado pelo COMPETE 2020 no âmbito do Sistema de Incentivos à I&DT na vertente de copromoção, com um investimento de 998 mil euros, a que corresponde um incentivo comunitário de 716 mil euros do FEDER. Terminado em agosto de 2018, o projeto avançou para uma fase comercial. Neste momento, a ProdFarmer já identificou vários clientes e está a dar os primeiros passos para vender a ferramenta desenvolvida. No entanto, Carlos Ferreira admite que muito mais haverá por explorar nesta área de trabalho e, por isso, “como qualquer projeto em áreas emergentes que tem um elevado grau de inovação, é importante que o projeto tenha continuação. É muito importante utilizar a ferramenta desenvolvida no maior número de herdades possível para avaliar o impacto e melhorar a funcionalidade e modelos desenvolvidos. Os modelos desenvolvidos têm por base recolhidos em dias herdades e é importante avaliar o poder de generalização dos mesmos.
Principiais funcionalidades do Smart Farming:
- Gestão da rega e de fertilização,
- Definir um calendário de operações culturais e de fases fenológicas,
- Acompanhar a evolução da maturação dos frutos
- Segmentar a colheita
- Determinar riscos de doenças
- Definir ações de execução autónoma como a rega
Artigo publicado na revista Vida Rural em outubro 2019.
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Fonte: Vida Rural