Rega: rumo à tão desejada sustentabilidade

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Rega… Desde os seus primórdios em 6000 a.C. no Egipto e Mesopotâmia, nunca tal técnica fez tanto sentido para a agricultura mediterrânea como em pleno século XXI. O ano de 2017 foi exemplo desta evidência.

Por: Gonçalo Rodrigues | Coordenador Executivo do Centro Operativo e de Tecnologia de Regadio – COTR e Editor Convidado do Dossier Rega | Edição 27 da AGROTEC

A existência e persistência das alterações climáticas, e o seu impacto numa escala global em todas as ramificações ambientais, torna evidente a necessidade de recorrer a esta prática ancestral para colmatar o impacto da conjugação de dois fenómenos climáticos – a redução da precipitação e o aumento da temperatura – sobre um balanço hídrico desde cedo deficitário.

A variabilidade climática, a (in)capacidade de regar, a (in)disponibilidade de água, a fertilidade do solo, a gestão de risco face aos eventos extremos, as condições favoráveis a organismos prejudiciais às culturas, e a alteração dos sistemas fitossanitários, constituem as principais variáveis críticas para a mitigação dos expetáveis efeitos das alterações climáticas em agricultura.

O recurso água torna-se, então, cada vez mais, um fator de competitividade, capaz de acrescentar valor à atividade agrícola, tanto pelo aumento da quantidade como da qualidade do produto.

Contudo, há que criar mais e melhores condições. Apesar da evolução das áreas regadas e dos investimentos que foram, e têm ainda vindo a ser realizados (largamente apoiados por programas governamentais), o regadio tem sido considerado essencialmente do ponto de vista das infraestruturas, sejam elas de armazenamento, captação, regularização e distribuição, sejam de aplicação ao nível da parcela.

Torna-se fundamental uma melhoria da eficiência do uso e gestão da água de rega e da energia de forma transversal, tendo como objetivo, por um lado, aumentar a produtividade económica da exploração, e, por outro, aumentar a disponibilidade de água para mais regadios e mais regantes, acompanhada por uma diminuição do impacte ambiental negativo associado ao regadio.

Este aumento de eficiência terá que, necessariamente, resultar de esforços conjuntos, que passarão obrigatoriamente por uma forte aposta na aquisição e transferência de conhecimento, na construção de novas estruturas, e na formação e capacitação dos agentes económicos, por forma a promover a otimização do uso do recurso (cada vez mais escasso…), garantido assim uma sustentabilidade económica acompanhada de uma segurança e soberania alimentar.

Mas ainda temos um (longo) caminho para percorrer… Um melhor aproveitamento e aplicação dos fundos, com o devido apoio político e correta subsidiação, um aumento/alargamento da área de regadio coletivo, uma melhoria da eficiência das redes primária, secundária e terciária, a adoção de metodologias, ferramentas e técnicas mais eficientes (tanto ao nível do perímetro como das explorações), são exemplos de “atalhos” para tornar este caminho menos tortuoso.

Teremos que meditar sobre o presente e pensar no futuro. A tão falada Agricultura de Precisão terá que forçosamente ser desmistificada, pensando que já há muito tempo temos tido preocupação em distribuir e aplicar a água no momento certo, na quantidade certa, e da maneira mais eficiente e uniforme possível.

Temos que visar a realização de toda e qualquer tarefa de uma forma ainda mais otimizada, observando e registando toda e qualquer informação, recorrendo a ferramentas de apoio à decisão e a metodologias capazes de realizar as operações de forma adaptada à nossa realidade. E não nos podemos esquecer que agricultura de regadio tem “pequenos” e “grandes” agricultores… todo e qualquer esforço deve ser desenvolvido de forma que possa ser aplicado independentemente da escala.

Muito há ainda a fazer… mas a postura da comunidade agrícola, que tem mostrado uma dinâmica como há muito não se via, deixa-me bastante confiante que seremos capazes de encontrar soluções, disseminando o conhecimento até agora acumulado, permitindo que aqueles que do regadio tanto precisam, possam alcançar a tão desejada sustentabilidade.

Nota: Artigo publicado na edição n.º 27 da Revista AGROTEC no âmbito do dossier Rega.

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