Por Marcelo Leitão1, Ana Sofia Alexandre1, Diana Duarte2, Ana Paula Sançana2, Teresa Letra Mateus1,3,4
1 Departamento de Medicina Veterinária, Escola Universitária Vasco da Gama, Coimbra
2 Lousamel, Cooperativa Agricola dos Apicultores da Lousã e Concelhos Limitrofes
3 Escola Superior Agrária, Instituto Politécnico de Viana do Castelo
4 EpiUnit, Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto
Resumo
A abelha enquanto polinizador essencial na conservação da biodiversidade tem também uma grande importância económica e desta forma, observando-se uma diminuição no seu efetivo mundial, é necessário entender o porquê, para que se possam tomar decisões que tenham em vista estratégias de controlo e gestão no futuro.
Em simultâneo, o aumento da consciencialização global para as alterações climáticas têm estimulado estudos não só sobre as alterações no próprio ciclo de vida da abelha, mas também nas relações de mutualismo que estas têm com a flora, afetando a base da sua especialização enquanto polinizadores, sem nunca esquecer a presença de outros fatores ambientais e agentes patogénicos que cada vez mais afetam esta espécie.
Introdução
A abelha Apis mellifera é um polinizador essencial na conservação da biodiversidade, polinizando numerosas espécies de plantas cuja fecundação requer um polinizador obrigatório, sendo também de grande importância económica para as culturas a nível mundial (Le Conte & Navajas, 2008).
Uma das maiores evidências de um problema global na apicultura, é a observação da diminuição do efetivo apícola mundial, de forma semelhante em todos os continentes, apesar das grandes diferenças de maneio nas diversas regiões do planeta (Genersch, 2010).
O facto da mortalidade em colónias de abelhas Apis mellifera estar a aumentar a nível mundial mostra, claramente, uma fragilidade desta espécie face a um ambiente que lhe é cada vez mais hostil.
Sendo a Apis mellifera uma espécie que demonstrou uma grande capacidade de adaptação, uma vez que é encontrada em, sensivelmente, todas as partes do mundo, com os vários climas existentes, pensa-se que esta biodiversidade considerável poderá servir para se adaptar às alterações climáticas devido à sua variabilidade genética (Le Conte & Navajas, 2008).
Influência das Alterações Climáticas
Nos anos 70 e 80, no início da consciencialização global para as alterações climáticas, a preocupação causada por possíveis alterações das espécies e interações entre elas, já estava presente (Willmer, 2014).
Estudos recentes, têm focado as zonas equatoriais, uma vez que são as zonas menos afetadas durante as Eras Glaciares, e foram descobertas respostas fenotípicas nas comunidades de flora e plantas agrícolas, que predizem cenários futuros, causados pelas alterações climáticas, que interferem, mesmo nestes climas, com as suas dependências dos polinizadores (Groom, Stevens, & Schwarz, 2014).
O ciclo de desenvolvimento das abelhas é assim também influenciado pelas alterações climáticas e cada raça de abelha apresenta o seu próprio ritmo de desenvolvimento, tendo, por isso, qualquer modificação do clima ou deslocação de uma raça de abelhas de uma região geográfica para outra, consequências significativas (Le Conte & Navajas, 2008).
Mudanças no mutualismo entre a flora e as abelhas
As alterações climáticas podem desequilibrar as relações entre flores e polinizadores e estes últimos devem ser protegidos, no sentido de assegurar a sua função de polinização, tão decisiva para o equilíbrio ecológico e para a economia (Le Conte & Navajas, 2008).
Em caso de perda de polinizadores naturais, essas plantas dificilmente ganharão outros polinizadores que se adaptarão para equilibrar o ecossistema.
Pelo contrário, a aparência de certas flores parece ser afetada por alterações térmicas a longo prazo, não só nas suas cores mas também no seu cheiro (Willmer, 2014).
«As interações mutualistas estão especialmente vulneráveis devido ao seu potencial de desajuste fenotípico se as espécies envolvidas não responderem de forma similar às alterações de temperatura» (Bartomeus et al., 2011).
Assim, estas alterações fenotípicas das plantas a somar à atividade da abelha que por si só é fortemente dependente da temperatura ambiente, farão diminuir as taxas de polinização resultando em graves mudanças do ecossistema (Willmer, 2014).
(Continua)
Nota: Artigo publicado na edição impressa da Agrotec 27.
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