Produção hortícola moderna no Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina

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O Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, sobretudo na estreita faixa litoral que se estende de Sines ao Cabo de S.Vicente, apresenta um potencial agrícola verdadeiramente único em Portugal.

Por Nuno Madureira Simões | Presidente da Direção da AHSA – Associação dos Horticultores, Fruticultores e Floricultores dos Concelhos de Odemira e Aljezur

De facto, esta Região apresenta uma conjugação de fatoresedafo-climáticos – solos de textura ligeira e geralmente bem drenados e um clima de influência marcadamente atlântica que se traduz em verões amenos e invernos suaves – que não encontra facilmente paralelo quer no nosso País quer noutras regiões do Mundo.

Aliada a estes fatores e desde finais dos anos 60 do século passado, a conclusão de uma das maiores e mais significativas obras públicas no domínio do regadio em Portugal até ao evento da Barragem do Alqueva – o Aproveitamento Hidroagrícola do Mira – veio aportar uma disponibilidade de água de excelente qualidade, proveniente da bacia hidrográfica do Rio Mira, e afirmar definitivamente os concelhos de Odemira e Aljezur como tendo condições quase ideais para a prática da horticultura.

Por estas características ímpares, esta região tem vindo, sobretudo nos últimos 25 a 30 anos, a atrair um número crescente de empresas, em busca da possibilidade de produzir diversas culturas horto-fruti-florícolas, tendo em vista a obtenção de produtos de alta qualidade, numa época mais alargada do que encontrariam em quase todos os países da Europa, África e Ásia.

Estas empresas, inicialmente na sua maioria estrangeiras, mas a que se tem vindo juntar nos últimos 15 anos também muitas empresas de capitais nacionais, buscaram sobretudo a produção em contraciclo face às épocas tradicionais dos principais mercados europeus e como tal assumiram uma forte vocação exportadora.

Aproveitando esta significativa vantagem competitiva, a região tem assistido, sobretudo nas duas últimas décadas, a um forte crescimento económico, impulsionado pelo setor hortícola com contributos crescentes para a economia local e nacional.

Face ao atrás exposto, facilmente se poderia concluir que o futuro da Horticultura (na sua acessão maior) nesta Região se anunciaria risonho.

Tal não é, infelizmente, o caso e duas ordens de fatores tem vindo a assumir-se como fortemente limitantes a esta senda de sucesso.

Em primeiro lugar, por claros e cada vez mais agudizados conflitos de uso do território.

Com efeito, àcriação do importante Perímetro de Rega do Mira (PRM), que permitiu com o evento do regadio, transformar e aproveitar o potencial agrícola da Região, seguiu-se no final dos anos 80 do século passado, a instalação do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina (PNSACV), com o objetivo, não menos merecedor, da preservação dos valores naturais e ambientais em presença.

Não sendo, na nossa opinião, necessariamente e na sua essência, incompatíveis tais objectivos de harmonização da otimização do potencial agrícola e da preservação de valores naturais em presença, tem-se revelado muito difícil a convivência destas duas realidades (PRM e PNSACV).

Por isso a AHSA disse presente, desde o primeiro dia,àiniciativa designada por Grupo de Trabalho do PRM, e conjunta de várias Autoridades Públicas (Agricultura, Ambiente e Ordenamento do Território), que procurou encontrar caminhos de futuro.

Esta iniciativaestá em fase de conclusão e na qual, a AHSA tal como os demais agentes de desenvolvimento económico em presença na Região, deposita grande esperança que traga soluções que possam contribuir para clarificar, em termos concretos e de delimitação geográfica clara, por um lado, o que se deve proteger (e onde) em termos de valores naturais e por outro, o que seria, na nossa opinião, um tremendo desperdício não aproveitar em termos de potencial agrícola.

A bem do desenvolvimento local e a bem da economia nacional.

Em segundo lugar, e de modo algum menos relevante, a importante e dramática escassez de mão-de-obra.

O principal concelho desta região – Odemira – e o mais extenso do país em termos de área, é também um dos menos densamente povoados.

Esta escassez de mãodeobra local, que infelizmente também encontra paralelo à escala nacional e até da União Europeia, associada à complexidade formal de importação de mão-de-obra pelas barreiras administrativas e burocráticas associadas, leva a que não seja fácil lidar com esta forte limitação ao sucesso empresarial na região, o qual vai para além do setor agrícola.

Apesar disso, a região tem sido capaz, por virtude deste dinamismo, de atrair um forte fluxo de trabalhadores migrantes, de proveniência sobretudo do Leste Europeu (não-comunitário) e da Ásia (Extremo Oriente essencialmente).

Face a este importante fluxo de força laboral, as infraestruturas de acolhimento rapidamente atingirão (se é que não atingiram já) o seu ponto de saturação.

(Continua).

Nota de Redação:

Este artigo foi publicado na edição n.º 29 da AGROTEC no âmbito do dossier Horticultura no Sudoeste Alentejano.

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