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A produção de figo-da-Índia já representa cerca de 900 hectares de pomares organizados, de acordo com a associação que representa o setor, APROFIP. Em 2019, foram declaradas pelos seus 90 associados perto de 376 toneladas de fruta, que tem como destino o consumo em fresco e a transformação, quer para o mercado nacional quer para exportação.
Filipe Almeida, representante da APROFIP, revelou à VIDA RURAL que estes 900 hectares “não estão todos em velocidade de cruzeiro. Só a partir dos cinco anos é que conseguimos atingir uma média de 15 a 20 toneladas, dependendo dos tratamentos que fizermos, sempre em modo biológico, ou seja, da forma como regamos, fertilizamos e também do clima”.
Implementada em quase todo o território nacional, numa faixa que começa em Castelo Branco e termina no Algarve, é na região sul que a cultura apresenta melhores resultados, ou não estivéssemos a falar de um cato, que gosta de calor. Apesar disso, o figo-da-Índia não dispensa a rega e tem cuidados culturais imprescindíveis para atingir a qualidade necessária para a comercialização: “Muitas pessoas pensam quando iniciam esta cultura que não vão ter despesas, mas a realidade não é essa. Temos de regar no verão tem de se regar, fazer podas e desbastes. Há muito trabalho para que o figo tenha muita qualidade. Se quisermos um figo com 200 gramas, que é o standart no mercado, temos de trabalhar para isso, como em qualquer fruteira”, aponta Filipe Almeida.
Mercado diversificado
O mercado nacional absorve cerca de 30% da produção em fresco e a exportação 45 a 50%. O que resta é encaminhado para transformação: vinagres, sabonetes, compotas geleias, sumos, pickles, gelados, doces, barras energéticas. O óleo também pode ser extraído, bem como as grainhas, que resultam em produtos para a indústria cosmética de grande valor acrescentado.
A associação está a promover diversas experiências e parcerias com várias universidades no sentido de promover a investigação e criar novas oportunidades de negócio: “A APROFIP não se envolve diretamente em negócios, mas temos de trabalhar para encontrar soluções. Neste momento estamos a fazer uma experiência, em conjunto com o enólogo Rui Reguinga, na produção de vinho frisante leve e também já estamos a testar a cerveja artesanal à base de figo.
O preço médio da fruta fresca ronda 1€/kg, dependendo do fim a que se destina. “Não aconselho vender de fruta fresca com menos de 120 gramas, não tem valorização. Abaixo deste peso, o fruto pode ser encaminhado para transformação, com uma desvalorização significativa dos preços que “baixam para uma média de 30 a 40 cêntimos/kg. A ideia é não perder a totalidade do negócio, até porque nos primeiros anos não se consegue atingir este peso, mas a possibilidade de transformação acaba por motivar os produtores nesta fase menos produtiva e gera algum rendimento. Até porque é preciso estar consciente que, mesmo em velocidade de cruzeiro, também produzimos figos pequenos. É por isso que a associação faz pesquisa no mercado e trabalha para criar uma dinâmica grande em torno de toda a planta de forma a rentabilizar ao máximo a cultura”, defende.
Economia circular
Da raiz ao fruto, tudo pode ser aproveitado nesta cultura. A flor pode ser aproveitada para tisanas, a palma é comestível “entre os três a seis meses pode ser assada na brasa como um pimento e já estamos a colocar algumas destas palmas em alguns chefs em Lisboa, Cascais, Estoril com uma aceitação excelente” e os desperdícios das plantas podem ser triturados para fazer compostagem para fertilização do solo dado ser uma planta rica em minerais e muito nutritiva para o solo, evitando o investimento em adubos. Quem tiver produção pecuária também pode aproveitar estes subprodutos, e há até quem opte por ter uma parte da cultura dedicada para produção forrageira.
Para Filipe Almeida, o principal desafio para o futuro da fileira é unir os produtores e dar a conhecer o fruto em fresco: “Vamos começar a fazer publicidade para divulgar o figo da Índia, desde os pequenos mercados às redes sociais, e o maior desafio é mesmo introduzir o produto no mercado, porque as pessoas não o conhecem. Temos de dar a provar, porque há uns anos também ninguém conhecia o kiwi e hoje está completamente implantado”, aponta.
*entrevista realizada na Fruit Attraction, em Madrid, no âmbito da participação da Portugal Fresh nesta feira.
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Fonte: Vida Rural