Produção competitiva e sustentável de batata-doce no Perímetro de Rega do Mira

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Batata-doce: cultura em expansão no mercado mundial

A batata-doce (Ipomoea batatas L.) é originária da América Central e do Sul e constitui parte da dieta alimentar dos seres humanos desde há muitos milénios, conforme vestígios em cavernas peruanas que remontam há 10 000 anos.

Foi largamente difundida entre os continentes através das viagens dos exploradores de todo o mundo, como Cristóvão Colombo e os portugueses que a levaram até ao Extremo Oriente.

Atualmente, os dez maiores países produtores de batata-doce são a China, Nigéria, Tanzânia, Etiópia, Indonésia, Uganda, Vietname, EUA, Índia e Ruanda (Worldatlas, 2018).

A cultura da batata-doce tem vindo a despertar um interesse renovado, a nível mundial, constituindo objeto de investigação recente desenvolvida por múltiplos parceiros, em projetos de segurança alimentar e adaptação às mudanças climáticas, como por exemplo nas comunidades das ilhas do Pacífico, particularmente expostas a uma série de eventos climáticos extremos e surtos de pragas e doenças (Iese et al., 2018).

O Banco Mundial, que acolhe o Programa Global de Agricultura e Segurança Alimentar (GAFSP), debruça-se no Uganda em diversos alimentos ricos em micronutrientes, tal como a batata-doce de polpa laranja (World Bank, 2018).

Produção nacional de batata-doce

Em Portugal, a produção de batata-doce tem vindo a aumentar: cerca de 16 500 t produzidas em 776 ha, em 2012, para 22 900 t numa área de 1 051 ha, em 2016 (FAOSTAT, 2018). Também as exportações aumentaram, principalmente para a Europa do Norte. As importações diminuíram de 1 016 t em 2012 para 403 t em 2013.

A área de produção (776 ha em 2012 e 1 051 ha em 2016) distribui-se pelo Ribatejo, Estremadura, Alentejo Litoral e Algarve, sendo cerca de 80% abrangida pelo Perímetro de Rega do Mira (PRM).

Desde 2009 que a ‘Batata-doce de Aljezur’ é uma Identificação Geográfica Protegida. A variedade Lira, com forte tradição local, tem produção circunscrita a todo o concelho de Aljezur e às freguesias de S. Teotónio, S. Salvador, Zambujeira do Mar, Longueira–Almograve e Vila Nova de Milfontes, do concelho de Odemira.

O consumidor nacional procura cada vez mais este produto pelas suas qualidades nutricionais, uma vez que a raiz da batata-doce é rica em β-caroteno, manganésio, potássio, açúcares com baixos índices glicémicos, fibras, antioxidantes e vitaminas A, C e B6.

Prevê-se que esta procura não seja satisfeita pela produção nacional, havendo necessidade de recorrer à importação tanto de materiais para plantação, como das raízes para consumo.

A cultura é afetada por cerca de 30 vírus de nove famílias, na maioria transmitidos por afídeos e moscas-brancas, sendo os principais hospedeiros secundários, plantas infestantes de diversas famílias.

O sinergismo entre vírus pode reduzir até 90% a produção, como o Sweet Potato Virus Disease (SPVD), transmitido por afídeos (Myzus persicae e Aphys gossypi) e por moscas-brancas (Bremisia tabaci).

Para controlar viroses há que utilizar plantas isentas de vírus obtidas por cultura de tecidos e controlar vetores e infestantes.

Problemas e desafios da cultura da batata-doce no PRM

A produtividade da batata-doce no PRM tem vindo a diminuir, devido ao acréscimo de problemas fitossanitários emergentes e à falta de Boas Práticas Agrícolas, tal como a utilização de material são na plantação e manutenção do bom estado fitossanitário da cultura, adequadas tecnologias de produção (fertilização, rega, etc.) e meios de proteção e conservação pós-colheita adequados, em produção integrada (PRODI) e agricultura biológica (MPB).

A multiplicação a partir de estacas da cultura do ano anterior e a falta de um controlo eficaz dos principais vetores de vírus (afídeos e moscas-brancas) podem perpetuar a incidência de vírus e afetar drasticamente a produção e a qualidade das raízes.

A alternativa é a importação de material de viveiro de variedades concorrentes da ‘Lira’, com pagamento de ‘royalties’, sem garantia de passaporte fitossanitário, com o risco da introdução no país de organismos nocivos. A multiplicação de material nacional, em laboratórios e viveiristas fora de Portugal, faz aumentar o risco da ‘Lira’ ser patenteada como variedade estrangeira.

Na pós-colheita, as principais perdas devem-se a danos mecânicos, abrolhamento, perda de água, danos por frio e podridões (Rhizopus spp. – podridão mole, Ceratocystis sp. – podridão preta, Fusarium spp. e Pseudomonas spp.).

Autoria: Alexandra Lima, Maria Elvira Ferreira, Anabela Veloso, Raquel Mano, Paulo Brito da Luz, Esmeraldina Sousa, Margarida Teixeira Santos, Isabel Calha, Conceição Boavida, Célia Mateus, Claudia Sánchez, Mário Santos, Paula Vasilenko | INIAV, I.P.

Margarida Silva Carvalho | AHSA

José Grego, Ana Pinto, António Marques, Luís Ferreira, Maria Diogo, Maria Lopes | ESA/IPSantarém

Paul Lenehan, Patrick Lenehan | Gemüsering Portugal Produção Hortícola

Carla Viveiros, Gonçalo Carvalho | ASF Portugal Unipessoal, Lda.

(Continua)

Nota: Este artigo foi publicado na edição n.º 29 da Revista Agrotec, no âmbito do dossier Horticultura no Sudoeste Alentejano.

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