Presidente da CAP diz que apresentação do roteiro para a Neutralidade Carbónica foi “momento de propaganda política”

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A apresentação do Roteiro para a Neutralidade Carbónica em 2050, particularmente do objetivo de redução da produção de bovinos entre 25% a 50%, foi “um momento de propaganda política”. Quem o diz é Eduardo Oliveira e Sousa, Presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), que em declarações ao jornal Público alerta para os perigos de uma “leitura simplista” da proposta do Ministério do Ambiente e Transição Energética.

Na entrevista concedida ao jornal, o Presidente da CAP defende que o sector agropecuário não quer ser visto como um problema, mas sim estar envolvido na solução. “Não somos contra a evolução do sector. Aliás queremos ser, e somos, parte ativa. Recordo que neste momento o sector agropecuário é o único sector da economia que já está a fixar carbono. Não é aceitável, por isso, que na proposta do Governo seja feita a desagregação do gado bovino de todo o sector agropecuário.

Oliveira e Sousa diz ainda que não é aceitável que se avance com medidas isoladas e desintegradas a nível europeu: “estamos solidários com os objetivos de Paris e queremos estar na frente do Roteiro. Mas isso tem de ser feito de forma séria e integrada. Não é cortar produção em Portugal e na Europa e depois importar carne do Brasil”.

O Presidente da CAP diz também que a proposta do Governo “não previu nem contabilizou as mudanças que já estão a ser introduzidas, por exemplo, na dieta dos animais e que lhes melhora a digestão entérica e diminui a produção de gases (…) Por exemplo, fala-se na transferência da utilização de terras hoje dedicadas à produção de pasto para a produção de cereais, quando a produção de cereais em Portugal é destinada maioritariamente à produção de alimentos para animais.”

“O corte no gado bovino ou é feito no gado que está estabulado ou não tem cabimento. Porque a política agrícola comum, mesmo a que se está a desenhar para o próximo quadro comunitário, promove o tipo de agricultura que é praticado no extensivo. O património genético do nosso gado autóctone não pode ser posto em causa”, defende ainda.

Eduardo Oliveira e Sousa refere que cerca de metade do efetivo nacional corresponde à produção de gado leiteiro e é neste sector que há maior estabulação e produção mais intensiva.

Fernando Cardoso, presidente da Federação Nacional das Cooperativas de Produtores de Leite (FENALAC), também ouvido pelo jornal Público, diz não querer que o gado leiteiro seja considerado o “bandido” e defende que a indústria de produção de leite também está preocupada com a redução do impacto ambiental do setor e tem sido parte ativa na procura de soluções.

“Nós temos feito investimentos sérios para reduzir esses impactos. E temo-los feito com apoios públicos, o que é mais estranho. Por um lado temos uns senhores [no Ministério da Agricultura]a dizer que nos vão apoiar com fundos públicos e comunitários, e depois vemos outra tutela a dizer que afinal não se faz é nada, que somos um grupo de poluidores, de malfeitores e é preciso acabar com eles. Não faz sentido”. O representante dos produtores de leite defende ainda que falar da produção de metano e do consumo de recursos ambientais “é ver apenas uma parte do problema”. “As vacas não estão num arranha-céus onde se deposita comida. Elas estão no meio natural, onde há produção agrícola. Há um efeito negativo que é preciso quantificar, mas é preciso descontar o efeito positivo, e somar ainda o esforço que está a ser feito, e que vai continuar a ser feito, para reduzir esse efeito negativo”, afirma.

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