PRE-HLB: Impedir a epidemia do HLB para garantir a sobrevivência da citricultura europeia

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O projeto Pre-HLB, coordenado pelo IBMCP, um centro com dupla tutela, do Conselho Superior de Investigações Científicas (CSIC) e da Universidade Politécnica de Valência, teve início nos dias 23 e 24 de julho, em Faro, Portugal. O projeto é financiado pelo programa-quadro H2020 da União Europeia com uma dotação de 8 milhões de euros. O objetivo do projeto é encontrar soluções contra a doença HLB, que ameaça a citricultura a nível mundial.

Por: Prof. Dr. Amílcar Duarte e Prof. Dr. José Alberto Pereira

O Pre-HLB é um projeto financiado pelo Programa-quadro Horizonte2020 que tem como objetivo evitar a entrada da doença Huanglongbing (HLB) na Europa e, caso isso ocorra, de preparar os mecanismos necessários para o seu controlo efetivo a curto, médio e longo prazo. O projeto Pre-HLB, lançado em Faro nos dias 23 e 24 de julho de 2019, numa reunião que contou com a participação de todos os membros do consórcio, tem uma subvenção de 8.001.690 euros e será desenvolvido ao longo dos próximos quatro anos.

O Instituto de Biologia Molecular e Celular de Plantas (IBMCP), um centro com dupla tutela, do Conselho Superior de Investigações Científicas (CSIC) e da Universidade Politécnica de Valência, coordena este projeto, contando com a colaboração de 24 outros parceiros de nove países da Europa, América e Ásia.

Sobre o projeto

Leandro Peña, investigador do IBMCP e líder do projeto, explica que o "HLB é considerada a doença mais devastadora dos citrinos. Isso deve-se à sua rápida dispersão, à agressividade dos seus sintomas, às elevadas perdas económicas que provoca, à dificuldade de prevenir novas infecções e à ausência de mecanismos de controlo duradouros. O HLB afeta atualmente todas as variedades e porta-enxertos de citrinos. Os únicos genótipos resistentes pertencem a espécies não cultivadas de outros géneros da subfamília das Aurancióideas".

A doença Huanglongbing, nativa do Sudeste Asiático, disseminou-se em pouco mais de uma década por quase todas as regiões citrícolas do mundo. Os maiores produtores de citrinos do mundo, a China, a Flórida (EUA) e o Brasil, encontram-se afetados pelo HLB e têm sofrido perdas económicas significativas. A doença HLB é causada por três espécies de bactérias do género Candidatus Liberibacter, transmitidas pelos insetos Trioza erytreae e Diaphorina citri. Trioza erytreae, ou psila-africana-dos-citrinos, foi detetada e encontra-se presente nas ilhas dos Açores, nas Ilhas Canárias, na Madeira e na zona noroeste da Península Ibérica. Embora as bactérias causadoras de HLB não tenham sido detetadas ainda na União Europeia, o risco de entrada é elevado, devido ao enorme movimento de bens e pessoas, bem como às importações ilegais de material vegetal de variedades de citrinos destinadas à instalação de pomares ou à utilização como ornamentais.

A experiência adquirida noutras regiões devastadas pelo HLB indica que estando presente o inseto vetor do HLB, e caso a bactéria responsável seja introduzida no território a propagação da doença é imparável. Assim, é urgente tomar as medidas necessárias para evitar a introdução do HLB na Europa e assegurar que, caso a doença venha a ser introduzida, seja detetada e erradicada rapidamente ", acrescenta Leandro Peña.

As primeiras medidas propostas no âmbito do projeto Pre-HLB visam sensibilizar as populações das regiões citrícolas e os agricultores para a existência e agressividade do HLB, bem como a formação dos citricultores na identificação dos sintomas. Em simultâneo serão identificados e inspecionados os pontos críticos de entrada da bactéria para prevenir a sua propagação. Serão monitorizados a presença e dispersão dos insetos vetores. Numa segunda fase serão estabelecidos os modelos de dispersão de Trioza erytreae em diferentes regiões da UE para prever a sua propagação, bem como modelos de gestão das explorações agrícolas para combater o HLB. Serão desenvolvidas novas ferramentas de controlo de insetos e novas técnicas de diagnóstico precoce da doença.

"Nós esperamos limitar a propagação do HLB se ocorrer a fase inicial da epidemia. A longo prazo, o Pre-HLB tem como objetivo implementar novas estratégias sustentáveis para limitar o impacto do HLB, como o uso de novos biopesticidas e de produtos antimicrobianos assim como de variedades e porta-enxertos resistentes à doença. Este projeto é também um marco para a citricultura a nível mundial por ser a primeira iniciativa em que colaboram a Europa, a América e a Ásia. Esta colaboração, com a participação de parceiros com vasta experiência na gestão da doença HLB, apresenta também a possibilidade de testar os frutos das investigações realizadas na Europa em condições reais nos países onde o HLB já está presente", conclui Leandro Peña.

Sintomatologia característica da infecção por HLB

(A) Nas fases iniciais da doença, as árvores sintomáticas caracterizam-se por ter uma ou várias rebentações amarelas que se destacam na copa verde da árvore. (B) árvore desfolhada, infectada pelo HLB. (C) Clorose assimétrica nas folhas, um sintoma característico de infecção por HLB. (D) Coloração alaranjada nos feixes vasculares na zona de união do fruto ao pedúnculo, enquanto que em frutos saudáveis a coloração é verde pálido (E). (F) Inversão da cor dos frutos na fase de maturação. (G) Deformação e necrose dos feixes vasculares. (H) Presença de sementes abortadas em citrinos afetados pelo HLB.

Consórcio

O Pré-HLB é formado por um consórcio multidisciplinar liderado pelo IBMCP(CSIC-UPV, Espanha). Os parceiros portugueses do projeto são o Instituto Politécnico de Bragança – IPB, a Universidade do Algarve – UALG, e a empresa Frusoal – Frutas Sotavento Algarve Lda.

Os outros parceiros são: Instituto de Agroquímica y Tecnología de Alimentos – IATA, CSIC (Espanha), Instituto de Ciencias Agrarias -ICA, CSIC (Espanha), Consiglio per la Ricerca in Agricoltura e l'Analisi Dell'Economia Agraria – CREA (Italia), Consiglio Nazionale Delle Ricerche – CNR (Italia), Centre de Cooperation Internationale en Recherche Agronomique Pour le Developpement – CIRAD (França), Instituto Valenciano de Investigaciones Agrarias– IVIA (Espanha), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuaria Embrapa – EMBRAPA (Brazil), The Chancellor, Masters and Scholars of the University of Cambridge – UCAM (Reino Unido), Universiteit Van Amsterdam – UVA (Países Baixos), University of Durham – U DURHAM (Reino Unido), Hunan Agricultural University – Hunan Univ (China), Anti Microbial Peptide Biotechnologies Sl – Ampbiotech (Espanha), Koppert Espana Sl – Koppert España (Espanha), Martinavarro Sl – Martinavarro (Espanha), Conselleria de Agricultura, Medio Ambiente, Cambio Climático Y Desarrollo Rural – AGROAMBIENT (Espanha), Fundo de Defesa da Citricultura – FUNDECITRUS (Brasil), Asociacion Valenciana de Agricultores – AVA-ASAJA (Espanha), Zabala Innovation Consulting, S.A. – ZABALA (Espanha), Universita Degli Studi Di Catania – UNICT (Italia), Universitat Politècnica de València – UPV (Espanha), Valgenetics Sociedad Limitada – ValGenetics (Espanha) e The Agricultural Research Organisation of Israel – The Volcani Centre – VOLCANI CENTRE (Israel).

O projeto Pre-HLB conta também com a participação dos EUA e serviços de proteção de plantas de diferentes países europeus que fazem parte de um comité de entidades externas que actuam como partes interessadas. Em Portugal, a DGAV (Direção Geral de Alimentação e Veterinária) integra esse comité.

Participação portuguesa

O Instituto Politécnico de Bragança é responsável por desenvolver e optimizar uma metodologia de amostragem para detecção e acompanhamento das populações da psila-africana-dos-citrinos, e desenvolver estudos acerca da sua biologia, reprodução, e comportamento alimentar, juntamente com outros parceiros do projecto como o CSIC, UAlg. Frusoal e Martinavarro. Vai também coordenar o estudo da dispersão da psila e a influência da diversidade da paisagem. E estudar estratégias de luta cultural contra os vetores do HLB em colaboração com o CSIC e Fundecitrus.

A Universidade do Algarve é responsável pelo estabelecimento de áreas de gestão sanitária de citrinos (CHMAS) em conjunto com a Frusoal e o Fundecitrus. Estuda o comportamento de T. erytreae em colaboração com a Frusoal e o CSIC e o movimento do vetor em colaboração a Universidade de Cambridge, sendo o. diagnóstico da presença de T. erytreae efetuado no Algarve e Alentejo. Diagnostica a presença de C. Liberibacter em colaboração com o CSIC. Analisa a presença de fungos entomopatogénicos e de parasitóides de T. erytreae em colaboração com a KOPPERT.

A Frusoal apoia a implementação das diversas medidas de controlo, disponibilizando a sua equipa técnica e as suas extensas áreas de cultivo de citrinos.

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Fonte: Agrotec

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