Poder escolher do menu pode ser vantajoso para o bem-estar e rendimento

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Texto e Foto: George Stilwell | Clínica das Espécies Pecuárias e Laboratório Comportamento e Bem-estar Animal e Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade de Lisboa | Médico-veterinário, PhD, Diplom ECBHM

A ausência de fome é uma das 5 Liberdades sugeridas pela Comissão Brambell nos anos 60 para definir o conceito de bem-estar animal.

Parece-nos bastante evidente que ter alimento em quantidade e qualidade é um dos principais requisitos para uma vida condigna, ainda mais quando estamos a falar de seres vivos aos quais é pedido para crescerem e produzirem a velocidades estonteantes.

Ao longo destas últimas décadas seleccionámos genética com um apetite e umas necessidades nutritivas enormes e, por isso, tivemos de também de aprender a alimentá-la.

Mas será que os sistemas alimentares que criámos são apropriados para todos os animais? Ou será que alguns animais, mesmo podendo aceder a dietas compostas, volumosas e nutritivas, vêem o seu bem–estar ser negativamente afectado?

Com a intensificação da pecuária tornou‑se habitual, ou diria mesmo obrigatório, orientar as nossas decisões baseadas na média. Ou seja, fornecemos alimento, nutrientes, espaço, maneio, instalações etc… para valores que cabem num intervalo que consideramos representativo da população.

É por isso que formulamos e preparamos dietas homogéneas onde, em princípio, está tudo o que o animal precisa para cumprir a missão para a qual foi designado – produzir mais do que 50 litros, crescer mais do que 1,200 quilos etc…

Por princípio, retiramos qualquer liberdade de escolha ou qualquer consideração pelas necessidades individuais.

É verdade que cerca de 50% dos animais submetidos a esse esquema alimentar irá ver as suas necessidades satisfeitas e irá agradecer produzindo tudo o que a sua genética permite.

Mas a outra metade estará nos extremos e, por isso, irá receber um excesso ou um defeito de alimento ou uma proporção errada de nutrientes ou mesmo uma quantidade de toxinas com as quais serão incapazes de lidar.

É sobejamente conhecido que cada animal é um indivíduo complexo com necessidades inatas variáveis. Estas necessidades vão-se modificando ao longo da vida devido à fase crescimento, ao ciclo produtivo e reprodutivo, ao ambiente, ao clima, ao maneio, ao estado de saúde, ao temperamento, às experiências anteriores… E variam de forma diferente em cada indivíduo.

A morfologia e a fisiologia de cada animal são únicas e a forma como usam os nutrientes e mesmo como os nutrientes interagem entre si quando ingeridos, alteram-se constantemente.

O mesmo se passa, por exemplo, com os mecanismos destinados a neutralizar e eliminar toxinas (sempre presentes, mesmo nos alimentos de maior qualidade), microorganismos ou parasitas.

Até as preferências, em termos de paladar, cheiro e consistência, variam. Pretender que a mesma mistura promova os mesmos efeitos em todos os animais, por muito parecidos que sejam, é um erro enraizado mas que demonstra falta de conhecimento em biologia.

(continua)

Nota: Artigo publicado na edição Agrotec 25.

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