Por Eduardo de Oliveira e Sousa | Presidente da CAP – Confederação dos Agricultores de Portugal
Vivemos uma época em que tudo acontece a correr e onde todos andamos atrás de tudo e mais alguma coisa.
São as corridas aos saldos, às lojas na véspera do lançamento de um “novo” telemóvel em tudo igual ao que já temos mas que traz um Upgrade a que não podemos deixar de aceder.
Corremos a modificar hábitos alimentares porque afinal o leite faz mal, a produção de carne prejudica o ambiente, ou porque tem glúten, porque possivelmente é geneticamente modificado, porque é biológico, enfim, corremos atrás de tudo o que nos “informam”, como se nada do que fazemos ou fazíamos antes pudesse estar correcto ou ser adequado. A todo o momento pomos tudo em causa.
Não será o momento de abrandarmos o passo? De procurarmos raciocinar sobre este mundo acelerado em que vivemos e nos estamos a deixar enredar como se de uma corrida sem fim se tratasse?
Correr para mudar não é o mesmo que ingressar na mudança. Mudança é outra coisa, é fazer parte de um mundo em evolução, de integrar o progresso e adaptarmo-nos à diferença que a ele se associa. Para isso precisamos de investir em conhecimento. Não apenas o conhecimento sobre o como fazer, mas o conhecimento sobre o como usar ou como consumir, e essa é a parte difícil desta questão.
É por isso que andamos a correr, porque em vez de estudar é mais fácil juntarmo-nos aos outros, alimentando a ilusão de que por estarmos “na onda” estamos actualizados.
Neste ambiente de aceleração inconstante, mas permanente, como fazer por exemplo para estruturar um investimento ou uma actividade? Se essa actividade for a agricultura, incompatível com alterações políticas bruscas ou prazos curtos, quantas vezes somos confrontados com mudanças a meio do percurso, ou até antes de se iniciar a fase de cruzeiro?
Nos últimos tempos os agricultores deram um salto gigantesco no conhecimento do como fazer. Hoje temos todo o tipo de tecnologia e procedimentos a serem usados em agricultura e a segurança alimentar está praticamente garantida nos produtos disponíveis nas superfícies comerciais, e mesmo nos mercados de rua ou de fim de semana.
Mas ao nível do consumidor está instalada a dúvida e essa desconfiança assenta no inverso, ou seja, no desconhecimento, na insuficiente capacidade de discernimento sobre as questões que nos invadem a mente e nos perturbam a sensatez da análise, prejudicando o resultado e o conforto das nossas decisões. Alguém tira partido disso, mas isso é outro assunto.
Para inverter esta tendência precisamos de criar mais confiança na partilha do conhecimento e sermos mais eficazes na forma como comunicamos. De mais transparência e de estreitar relações entre quem produz e quem consome, numa palavra, precisamos de reconhecimento.
Nem tudo está bem e muito há ainda para fazer, será sempre assim, especialmente na conjugação dos procedimentos produtivos com os de salvaguarda ambiental. Também aqui precisamos de intensificar a troca de conhecimentos e fomentar confiança de posturas, combatendo posicionamentos extremados que dificultam consensos e equilíbrios, e prejudicam o avanço que sustenta o progresso e o crescimento.
Pode parecer um problema da esfera da sociologia, e até talvez seja, mas para que a vida continue, o melhor mesmo é sabermos com o que contamos e integrarmos um espírito de mudança e de acréscimo de conhecimento que permita mudar este paradigma. É neste Mundo que todos vivemos e assim se evolui.
Também o Estado e as instituições precisam de abrandar e de investir neste acréscimo de conhecimento sustentado. Abrandar o ritmo com que se alteram conceitos prejudicando os necessários rumos que permitiriam ver mais longe.
Abrandar as mudanças processuais, decididas aleatoriamente ou em função de objectivos de curto prazo alheios na maioria das vezes ao real desenvolvimento dos sectores, como sejam objectivos políticos, eleitorais ou até ideológicos. Tem de haver tempo para estudar para irmos ao cerne dos problemas, com a consciência de que a pressa é inimiga da perfeição.
Uma coisa é certa, ou reconhecemos que esta correria nos prejudica a todos e nos debruçamos mesmo sobre o por onde vamos e onde queremos chegar, ou a tendência será continuarmos a acelerar, e muitas vezes… o excesso de velocidade acaba em desastre.
Nota Editorial:
Este artigo foi publicado na edição n.º 26 da Revista Agrotec. Para aceder à versão integral, solicite a nossa edição impressa.
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