O renascimento da Quinta Várzea da Pedra

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Dois irmãos renasceram uma quinta de Bombarral. Começaram por recuperar e reconverter vinhas, investiram na melhoria da adega e lançaram os primeiros quatro vinhos. O futuro passa também pela pera rocha.

Dar sentido e uso a uma propriedade levou dois irmãos a lançarem-se na atividade vitivinícola e fruteira. Situada numa das extremidades da vila de Bombarral, a Quinta Várzea da Pedra começou a engarrafar os seus primeiros vinhos e investe em pera rocha.

A Quinta Várzea da Pedra tem cerca de 26,5 hectares, dos quais oito têm vinha plantada e quase 9,5 hectares estão ocupados com pomar de pera rocha, destes pouco mais de seis hectares estão em produção. A área de vinho irá aumentar até aos 17 hectares, com o aproveitamento de outros terrenos.

Alberto Emídio, gerente comercial, e Tomás Emídio, designer, levaram anos a decidir mas em 2015 tomaram a decisão. A propriedade foi comprada no início do século XX por um bisavô e foi ocupação durante alguns anos do avô. Mas a quinta estava a degradar-se e havia vontade em não a deixar cair e de a pôr novamente a produzir. A casa data de 1910 e os seus azulejos deram a inspiração para os rótulos dos vinhos. No projeto contam também com Sónia Emídio, mulher de Alberto, que trata de todas as burocracias e procedimentos.

Tomás Emídio - Quinta Várzea da Pedra - Vida Rural

Tomás Emídio, o designer que apostou na agricultura

Começar um projeto empresarial não é fácil e o ponto de partida estava quase no zero, apenas tinham a propriedade, algumas vinhas e a velha adega. O começo da empresa traduziu-se num investimento que ronda os 350.000 euros, dos quais cerca de 60% são de apoios públicos.

Alberto Emídio e Tomás Emídio contrataram o enólogo Rodrigo Martins e têm vindo a estudar todos os procedimentos a realizar, de acordo com as exigências de qualidade e higiene.

2015 foi o ano de arranque

A vindima de 2015 não foi a primeira de Alberto e Tomás Emídio, mas assinala o começo do seu trabalho. A adega é um dos problemas que tem de ser resolvido, devido ao peso dos anos, mas conta com equipamentos que permitem fazer vinhos de qualidade. “Foi muito engraçado. A remodelação da adega acabou numa sexta-feira e a vindima foi na segunda-feira” – conta Tomás Emídio.

A experiência dos dois irmãos era completamente diferente da que, desde 2015, têm vindo a realizar. “Já tínhamos feito vindimas, mas não usávamos depósitos de inox, mas latões, reservatórios de pedra e outros em madeira” – prossegue Tomás Emídio. Atualmente, a capacidade de armazenamento é de 70.000 litros em depósitos de inox e de 9.500 litros em barricas de carvalho francês.

Em 2015, a produção de pera rocha foi ligeiramente superior a 128 toneladas. Em 2016 totalizou 138.500 quilogramas. A fruta é vendida a uma empresa de Alcobaça. Já a produção vinícola foi de 61.750 litros, há duas vindimas, e de 55.600 litros, no ano passado.

O solo da propriedade é argilo-calcário e a orientação das vinhas é para Sueste. Agora, quatro hectares estão com fernão pires e outros com arinto. Embora tenham a estagiar alguns litros de tinto, este vinho é proveniente de propriedades de outros agricultores.

Uma vinha com 100 anos

A vinha da Quinta Várzea da Pedra era típica da região Oeste, preparada para produzir em quantidade, com grande implantação das castas de seminário, seara nova e dona maria, entre outras. Algumas plantas têm cerca de 100 anos e vão manter-se. Na reconversão foram introduzidas a sauvignon blanc, a touriga nacional e syrah.

Quinta Várzea da Pedra - garrafa vinho - Vida Rural

Conta Tomás Emídio que a ideia de comercializar o vinho com marca própria existia desde o início, mas não era tida como uma urgência, “era algo para se fazer um dia”. Porém, quando se decidiu que a quinta não seria um hobby mas um projeto profissional a vinificação tornou-se obrigatória.

A gama atualmente em comercialização é formada por quatro vinhos, todos brancos e feitos com as duas castas plantadas na quinta: Quinta Várzea da Pedra (lote de fernão pires e arinto), Quinta Várzea da Pedra Reserva (lote de fernão pires e arinto), Quinta Várzea da Pedra Arinto e Quinta Várzea da Pedra Fernão Pires. Para já existe a vontade de fazer espumante.

Alberto Emídio e Tomás Emídio optaram por certificar todos os seus vinhos com Denominação de Origem Controlada Óbidos, porque consideram existir, de facto, características diferenciadas e porque o nome daquela vila do Oeste tem uma boa reputação que advém do turismo.

“A zona de Lisboa e do Bombarral nunca teve muitas quintas a fazer vinho com qualidade acima da média e com marca. Não com a lógica duma empresa grande, mas de uma quinta, em que, desde o dono ao tratorista, todos fazem tudo junto” – conta Tomás Emídio.

Além do núcleo familiar, na Quinta Várzea da Pedra trabalham permanentemente mais três pessoas. Nas vindimas, a equipa é reforçada com mais quatro pessoas. Tomás Emídio considera importante uma relação de continuidade, referindo que algumas já colaboravam no tempo do seu avô.

Nem todo o vinho que se produz na Quinta Várzea da Pedra é engarrafado com marca própria, parte é vendida a outros produtores da zona. “A lógica será cada vez mais fazer o que precisamos para manter a qualidade, mas não pretendemos ter uma grande produção. Queremos uma boa relação entre quantidade e qualidade para não perdermos o acompanhamento”.

Leia o artigo completo na edição de abril/maio/junho de 2017 da revista ENOVITIS

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