Por Rita Lourenço Costa | Investigadora Doutorada e Habilitada – Unidade de Sistemas Agrários Florestais e Sanidade Vegetal do INIAV I.P.
De acordo com os dados oficiais a área de castanheiro em Portugal em 2016 era de 35.718 hectares e a produção de castanha de 26.780 Toneladas.
O valor das exportações, ainda segundo as estatísticas Agrícolas de 2016, foi de 18.041 toneladas em 2015, com o valor de 40.575M€.
No entanto, de acordo com a informação recolhida junto dos elementos pertencentes à fileira da castanha em Portugal, os valores oficiais apresentados para a produção de castanha em Portugal e Espanha ficam aquém dos valores reais, por força do peso do mercado paralelo, do autoconsumo e da não divulgação de toda a informação disponível.
Acresce ainda a falta de um inventário rigoroso ao território para determinar com exatidão a área do território ocupada por castanheiro.
Com base nesta informação e na análise da produtividade registada pelas principais associações do setor, é possível estimar que a produção de castanha em Portugal se possa situar entre as 35.000 e as 45.000 toneladas/ano. (in: Estudo Económico do Desenvolvimento da Fileira da Castanha – Fórum Florestal).
A área de colheita de castanha e respetiva produção, a nível mundial, têm vindo a aumentar consistentemente ao longo dos últimos anos.
A análise da evolução da produção e da área de colheita permite constatar que o ritmo de crescimento da produção em Toneladas (5,6%) foi superior ao da área (3,4%) em hectares o que é revelador de um aumento da produtividade, que passou de 3,35 toneladas/ hectare em 2006 para 3,73 em 2010.
Portugal, apesar de apresentar a 5ª maior área de colheita é apenas o 7º maior produtor, o que reflete uma produtividade muito inferior à dos restantes países analisados (in: Estudo Económico do Desenvolvimento da Fileira da Castanha – Fórum Florestal).
A produtividade/ hectare em Portugal é menos de metade do valor potencial, para o que muito contribui o elevado défice em materiais vegetais melhorados para a resistência às principais doenças, tanto no mercado nacional, como no internacional: a doença da tinta, o cancro do castanheiro e recentemente a vespa das galhas.
A tinta, provocada por Phytophthora spp continua a ser a principal ameaça para o castanheiro.
A luta química, que foi sendo utilizada nas últimas décadas, tem provado não ser nem eficaz, nem ambientalmente aceitável. Por outro lado, não existe controlo biológico disponível, como existe para o cancro, provocado pelo fungo Cryphonectria parasítica (Murrill) M.E. Barr, através da hipovirulência, ou para a praga da vespa das galhas do castanheiro, provocada por Dryoscomus kuryphilus Yasumatsu, através do parasitoide Torymus sinensis Kamijo.
No que respeita à doença da tinta, o mercado europeu revela um elevado défice de materiais vegetais melhorados para plantação, com resistência melhorada ao agente patógénico. As doenças provocadas por agentes patogénicos exóticos constituem um problema mundial, devido aos movimentos de mobilidade e comércio intercontinental.
Um melhor conhecimento da base genética e dos mecanismos moleculares das interações planta: patogénio são, portanto, fundamentais e críticos, para o desenvolvimento de estratégias de gestão, que minimizem as perdas económicas e ecológicas relativas a doenças já estabelecidas, bem como as relacionadas com novas doenças emergentes.
O INIAV iniciou em 2006 um programa de melhoramento genético para a resistência à doença da tinta do castanheiro, causada pelo oomiceta Phytophthora cinnamomi Rands, baseado em cruzamentos controlados, entre a espécie europeia, Castanea sativa, muito sensível ao agente patogénico e as espécies asiáticas resistentes: Castanea crenata (castanheiro japonês) e Castanea mollissima (castanheiro chinês), com o objetivo de introgressão de genes de resistência das espécies Asiáticas na espécie Europeia (Costa et al., 2011).
(Continua)
Nota: Artigo publicado na edição impressa da Agrotec 28, no âmbito do dossier dedicado ao tema dos Frutos Secos.
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