Micropropagação In Vitro de porta-enxertos de frutos secos: amendoeira, pistacheira e nogueira

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Por Luciana Rodrigues1, Joana Lopes2, Ana Cunha1, Paula Melo2, Andreia Afonso3

1Departamento de Biologia, Escola de Ciências da Universidade do Minho

2Departamento de Biologia, Faculdade de Ciências da Universidade do Porto

3Laboratório de Biotecnologia Vegetal, Deifil Technology Lda.

Resumo

Os frutos secos apresentam uma grande importância económica, tanto em Portugal como a nível mundial.

A propagação in vitro de porta-enxertos da amendoeira, pistacheira e nogueira demonstrou ser o melhor método para a obtenção de um maior número de plantas com a garantia de qualidade genética e fitossanitária.

As razões pelas quais se utilizam porta-enxertos estão relacionadas com um elevado número de situações, entre as quais: a resistência a algumas pragas e doenças, ao frio, salinidade, adaptação a características do solo e qualidade do fruto.

O principal objetivo deste trabalho foi o desenvolvimento de protocolos de produção in vitro dos porta-enxertos GF677, UCB-1 e Vlach eficazes e rentáveis.

A comparação de diferentes clones destes porta-enxertos permitiu detetar diferenças entre os genótipos e desta forma selecionar os melhores clones para a propagação in vitro em grande escala.

Introdução

De ano para ano, a produção mundial de árvores de frutos com casca rija continua a aumentar. As qualidades nutricionais e tecnológicas destes frutos explicam o seu sucesso comercial (Rodrigues 2017).

Em Portugal, a produção e consumo de frutos secos, assentam numa forte tradição gastronómica e doçaria.

A amêndoa é o fruto líder do mercado mundial dos frutos secos, cuja produção teve o maior crescimento na última década.

O consumo regular de frutos secos deve-se ao facto de diversos estudos científicos comprovarem os seus benefícios para a saúde humana, o que levou à sua associação a diversas dietas mediterrânicas e ao desenvolvimento de novos hábitos de consumo, nomeadamente, snacks ou aperitivos saudáveis, proporcionando o aumento do consumo de amêndoa e da procura por parte da indústria (Cabo 2017).

Em 2017/2018, estima-se que as amêndoas sejam responsáveis por 62% da produção mundial, os pistácios por 17% e as nozes por 16%.

A produção de amêndoa atingirá mais de 1,2 milhões de toneladas durante o período de 2017/2018, 5% acima do período anterior e 25% em relação à média dos 10 anos anteriores (Council 2018).

Ao contrário de outras espécies lenhosas, a amendoeira, a pistaceira e a nogueira não são propagadas por estaca. Em alternativa utiliza-se uma técnica mais recente de enxertia sobre porta-enxertos (Rodrigues 2017).

Na maioria das espécies fruteiras, a árvore é composta por duas partes distintas: o porta-enxerto e a variedade produtora.

O porta-enxerto (parte subterrânea) é determinante no comportamento da árvore, pois é a parte da planta que garante o seu sistema radicular, confere a adaptabilidade ao meio terrestre, a sustentação da planta, a absorção de água e nutrientes e o armazenamento de reservas.

Este atua em interação com a parte aérea (variedade produtora), permitindo que se adapte a certas condições do solo.

Como a interação entre o porta-enxertos e a variedade enxertada é muito importante, a escolha do porta-enxertos deve ser feita em função das condições edafoclimáticas de cultivo e da variedade em questão, que são as responsáveis pelas características da produção, de modo a garantir o sucesso no estabelecimento de um pomar (Carlos 2014; Rodrigues 2017).

O GF677 foi o primeiro híbrido de amendoeira x pessegueiro. Este porta-enxerto faculta às árvores boa ancoragem, um sistema radicular desenvolvido, adaptabilidade e afinidade com a variedade produtora.

O seu vigor permite uma rápida produção e induz elevados rendimentos, quer em condições de sequeiro quer em regadio (Rodrigues 2017).

O UCB-1 é um híbrido artificial com maior tolerância ao Verticillium e menor resistência ao frio. Contudo, torna-se interessante por apresentar percentagens elevadas de frutos abertos logo durante os primeiros anos de produção (Regato 2017).

O Vlach é um porta-enxertos hibrido da nogueira-comum e nogueira negra. É também vigoroso, no entanto é menos sensível ao Agrobacterium tumefaciens. Adicionalmente, possuem um forte sistema radicular que permite que se adaptem facilmente a diferentes tipos de solo (Iannamico 2009).

Cada vez mais, a cultura in vitro é vista como uma alternativa viável às técnicas clássicas de propagação de plantas.

A propagação in vitro possibilita a obtenção de variedades autoenraizadas que podem ser utilizadas como porta-enxertos em solos com boas condições de cultura, evitando os fenómenos de incompatibilidade ou de outros possíveis efeitos negativos induzidos pelo porta-enxertos na variedade (Carlos 2014; Rodrigues 2017).

O objetivo deste trabalho consiste na seleção dos melhores clones dos porta-enxertos de GF677, UCB-1 e Vlach para propagação em grande escala.

Material e métodos

O processo de micropropagação divide-se em 5 fases: seleção, estabelecimento, multiplicação, enraizamento e aclimatização, sendo a segunda e a terceira fase, as mais determinantes para o sucesso deste.

O material utilizado em laboratório foi retirado de plantas-mãe previamente selecionadas.

Estes explantes foram divididos em segmentos nodais e sujeitos a um protocolo de desinfeção. No caso do pistácio e da noz, fez-se ainda uma última lavagem com um antioxidante. Depois de desinfetados, os segmentos nodais foram colocados individualmente em tubos de ensaio com um meio nutritivo, rico em macronutrientes, micronutrientes, vitaminas e citocinicas.

Após quatro a seis semanas os segmentos já apresentam um tamanho considerável e já desenvolveram alguns rebentos (Figura 2). Nesta fase, foram transferidos para frascos (5 por frasco) com dois tipos de meio de multiplicação, que foram escolhidos com base na pesquisa bibliográfica realizada.

(continua)

Nota: Artigo publicado na edição impressa da Agrotec 28, no âmbito do dossier Frutos Secos.

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