Marcolino Sebo: do mármore branco ao vinho tinto

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O mármore e o vinho são as duas actividades principais do concelho de Estremoz. Marcolino Sebo tem negócio nas duas indústrias. O cultivo da vinha despertou em 1975, quando adquiriu a primeira propriedade. Em 1999 é o ano da primeira vindima em nome próprio. A adega data de 2000.

Marcolino Sebo despertou para o negócio do vinho em 1975, mas só em 2000 se abalançou como produtor e engarrafador – referente à vindima de 1999. Nesses 25 anos, vendeu à Adega Cooperativa de Borba, onde foi um dos principais fornecedores. Toda a área industrial e de escritórios situa-se em Arcos, no concelho de Estremoz.

Embora seja conhecido pelos seus vinhos, a história empresarial de Marcolino Sebo está relacionada com a extração de mármore, na zona de Estremoz. Com os rendimentos obtidos na indústria extractiva foi comprando terra, juntando cinco propriedades, todas aptas a ostentarem a denominação de origem controlada (DOC) Alentejo, sub-região de Borba. Hoje tem 190 hectares, dos quais 130 hectares são de vinha e os restantes de olival, mas com alguns sobreiros.

A produção de vinho respeita sobretudo a tintos, cerca de 85%. A quantidade de brancos ronda os 15%. Num intervalo marginal, alguns litros de rosado. A Marcolino Sebo Wines and Oil tem uma capacidade instalada, de cubas de inox, de 1,5 milhões de litros. O número de barricas varia, conforme as necessidades, entre as 200 e as 300, de 225 litros – informa o enólogo, Jorge Santos.

As barricas são utilizadas durante três anos, embora algumas sejam limpas, com vista ao estágio de vinho licoroso, aguardente vínica ou aguardente bagaceira. Estes depósitos são de carvalho francês, mas produzidos pela JM Gonçalves, refere Sónia Sebo, responsável pela gestão da empresa, que partilha com Luís Sebo (irmão), que tem a cargo as actividades de campo.

Jorge Santos acrescenta que se fizeram experiências com carvalho de diferentes proveniências e também com madeira de castanho, mas vingou o allier daquela tanoaria de Bragança.

Os vinhos licorosos são a solução para sobras, que ficaram excluídas dos lotes. Em 2001 foi produzido um monovarietal da casta roupeiro. Em 2011, algum vinho da cultivar syrah atingiu os 25% a 30% de álcool. Assim, serviu para licoroso, que pouco necessitou de fortificação. Nos anos típicos, as vindimas começam em finais de agosto e prolongam-se até finais de setembro. A excepção é a chardonnay, que é colhida mais cedo e que obriga a atenção constante. “Por vezes dispara e tem de se andar a correr atrás dela”, explica Jorge Santos.

As aguardentes são compradas a quem lhes compra bagaço ou as matérias-primas – o bagaço e as borras. A aguardente base remonta a 1966. Todos os anos recebe contributos, tendo em vista a quantidade vendida e as perspectivas de negócio.

Adega Marcolino Sebo - Vida Rural

A empresa tem vindo a reestruturar a vinha, aproveitando para ajustar as áreas das castas principais. A maioria das plantas tem entre 15 e 20 anos, e serão todas renovadas. Em 2015, o olival de cobrançosa perdeu algumas árvores, sendo o espaço ocupado por Vitis vinífera.

As vinhas têm as raízes em solos argilo-calcários e argilo-xistosos. Os cerca destes novos 12 hectares de uveiras foram plantados com alfrocheiro (6,5 hectares) cabernet sauvignon (três hectares – sobretudo para satisfazer a procura internacional) e tannat (dois hectares para experiência).

A casta cabernet sauvignon tende a expressar-se com notas de pimento e de pimentão. Porém, a pirazina não é muito exuberante nos vinhos Marcolino Sebo. Jorge Santos adianta que a zona onde estão essas videiras plantadas tem características que não favorecem uma grande manifestação desse composto orgânico. Acresce que a vinificação também é determinante para que se desenvolva – prossegue o enólogo.

A casta castelão foi toda substituída, por não dar a qualidade pretendida, salienta Jorge Santos. Para o seu lugar foi a syrah, que se comporta bem nos dois tipos de solos das propriedades, explica o mesmo responsável.

Nas tintas, em produção estão as castas aragonês (30 hectares), alicante bouschet (20 hectares), touriga nacional (12 hectares), syrah (três hectares, a que se somam oito recentemente plantados, com objectivo de chegar aos 12), trincadeira (6,5 hectares) e tinta caiada (quatro hectares). As variedades brancas são as roupeiro (seis hectares), antão vaz (cinco hectares), chardonnay (dois hectares) e verdelho (um hectare) – áreas arredondadas.

O ano de 2015 correu favoravelmente para o vinho. “Correu muito bem, com pouca chuva e as uvas apanhadas no tempo e hora certos. Penso que estará ao nível de 2011” – adianta Jorge Santos. No olival também não há razão de queixa.

Exportação

As vendas ao estrangeiro representam cerca de metade do volume de negócios, que ascende a um pouco menos de 2.000.000 de euros. Os tintos predominam, a parte de brancos é de pouca monta, esclarece Sónia Sebo. As referências mais exportadas respeitam aos Visconde de Borba, mas as QP (Quinta da Pereira) estão a aumentar – conta Sónia Sebo.

O mercado da saudade tem peso no negócio, mas não apenas, de acordo com a gestora. Pode parecer estranho um vitivinicultor alentejano vender garradas com vedante artificial. Porém, as tampas de rosca foram imposição da cadeia de mobiliário sueca Ikea, que explora restaurantes nas lojas. Posteriormente, alguns clientes na Bélgica, Suíça e Estados Unidos também pediram essa solução. Sónia Sebo salienta que se trata de pequenas quantidades e aplicadas em vinhos de gama baixa.

Em termos de percentagem de vendas ao exterior, o Canadá representa 19%, seguem-se os Estados Unidos que representam (18%), França (15%), Suíça (15%), Brasil (11%), China (7%), Angola (4%), Bélgica (1%) e Japão (1%). O restante está espalhado por mercados com menor expressão.

Embora o poder aquisitivo dos britânicos seja elevado e o marcado com dimensão considerável, a empresa não exporta para o Reino Unido, devido à grande oferta e consequente grande concorrência. O Japão é uma aposta, assim como a Bélgica – informa Sónia Sebo.

Uma gama para várias algibeiras

A Marcolino Sebo Wine and Oil comercializa, atualmente, 12 referências de vinho, sendo a maioria de tintos. A referência mais barata tem um preço de venda ao público recomendado (PVPR) de 2,5 euros, enquanto a mais cara é de 20 euros. Além do factor preço, este produtor segmenta os seus vinhos entre os de perfil mais tradicional alentejano e os com características valorizadas nos mercados internacionais.

Em cada referência, as proporções das diferentes uvas variam, mas as fichas técnicas dão indicação de quais formam a ‘equipa’ habitual. As uvas para as referências de maior valor são colhidas manualmente, sendo as restantes por máquina vindimadora.

O topo da gama é o Visconde de Borba Garrafeira 2006, vinho tinto DOC Alentejo. Resulta dum lote de castelão, alicante bouschet e aragonês, com teor de álcool de 15%. As uvas foram pisadas em lagar, seguindo-se um período de maceração. O vinho estagiou um ano em barricas de carvalho francês e 14 meses em garrafa. O PVPR é de 20 euros. No total, a produção rondou as 5.000 garrafas.

O Visconde de Borba Reserva 2007 segue-se como segundo produto mais caro, com PVPR de 11 euros, tendo sido enchidas 20.000 garrafas. É um tinto produzido a partir de aragonês, alicante bouschet, trincadeira e tinta caiada, com teor de álcool de 14,5%. As uvas foram pisadas em lagar e fermentadas a temperatura controlada. Estagiou 12 meses em barricas, de carvalhos francês e americano, e depois em garrafa.

Caves - Marcolino Sebo - Vida Rural

Os Visconde de Borba são as principais referências, nas variantes de tinto, branco e rosado, todas classificadas como DOC Alentejo. O Visconde de Borba Tinto resulta da junção de aragonês, trincadeira e alicante bouschet, com teor de álcool de 13,5%. A fermentação ocorre em depósitos de inox, com temperatura controlada, e onde se procede à maceração. O estágio vai de dois a três meses em garrafa. O PVPR é de quatro euros, sendo a quantidade de 400.000 garrafas.

O Visconde de Borba Branco tem um PVPR de três euros e a produção é de 40.000 garrafas. As castas são antão vaz, roupeiro e verdelho, sendo a graduação alcoólica de 13%. A fermentação realiza-se em depósitos de inox onde ocorre também a maceração.

O Visconde de Borba Rosé tem um PVPR de quatro euros e representa entre 6.000 e 7.000 garrafas. As uvas são aragonês e castelão, em sangria, e processadas em depósitos de inox. O processo de fabricação é de bica aberta, a temperaturas controladas.

O Quinta da Pinheira é um tinto DOC Alentejo, com teor de álcool de 14,5%. A produção ronda as 30.000 garrafas, com o PVPR de 6,5 euros. Resulta da junção de uvas aragonês, trincadeira e alicante bouschet, colhidas manualmente. A fermentação ocorre em cubas de inox, a temperatura controlada, onde se processa a maceração. O vinho estagiou seis meses em barricas novas de carvalho francês e três meses em garrafa.

A abreviatura, em sigla, da Quinta da Pinheira dá nome às referências de perfil mais internacional, onde se inserem os vinhos monovarietais. A escolha das castas baseia-se na qualidade da expressão da variedade.

O QP – Colheita Seleccionada 2010 é um tinto Regional Alentejano, feito com uvas touriga nacional (30%), aragonês (30%), alicante bouschet (20%) e tinta caiada (20%). O teor de álcool é de 14,5%. A colheita foi manual e a fermentação realizou-se em cubas de inox, a temperaturas controladas, onde fez a maceração. Estagiou um ano em barricas novas de carvalho francês. Foram produzidas cerca de 15.000 garrafas, com PVPR de 8,5 euros.

QP – Syrah é um Regional Alentejano, cuja produção rondou as 14.000 garrafas, com PVPR de 8,5 euros. Embora os monovarietais possam ter o ‘tempero’ de vinhos de outras castas, este é 100% syrah, com volume de álcool de 15%. A vinificação foi realizada em lagar, com esmagamento por pisa, com temperatura controlada. O estágio em barrica decorreu durante um ano, seguindo-se de seis meses em garrafa.

O QP – Touriga Nacional está também classificado como Regional Alentejano, tendo sido enchidas 7.000 garrafas, com PVPR de 8,5 euros. Tal como o anterior, é 100% da mesma casta. O esmagamento fez-se por pisa em lagar, com temperatura controlada. Este vinho estagiou seis meses em barricas de carvalho francês.

O QP – Chardonnay é também Regional Alentejano e 100% desta cultivar francesa. A fermentação fez-se em barricas de carvalho francês. Foram produzidas 7.000 garrafas e o PVPR é de 6,5 euros.

As duas referências Monte da Vaqueira (branco e tinto) não existem apenas em garrafa, parte é vendida em bag in box. A quantidade de vinho tinto ascendeu a 70.000 litros e a de branco a 30.000. Em garrafa, os PVPR são de 2,5 euros e dois euros, respetivamente.

Tanto o tinto como o branco fermentaram em depósitos de inox, a temperaturas controladas, onde se realizou a maceração. Ambos estão classificados como Regional Alentejano. O primeiro tem 13% de álcool e o segundo de 12,5%.

O azeite é complemento

A maioria da área de olival está com a variedade arbequina, 45 hectares, em regime super-intensivo, com compasso de 3,5 por 4,5. As árvores de cobrançosa ocupam dez hectares, num compasso de sete por cinco. Por fim, cinco hectares de olival velho com a cultivar galega.

Os solos onde se encontram os olivais são sobretudo argilo-calcários. As oliveiras em regime super-intensivo e intensivo têm estrutura de rega gota-a-gota. O consumo de água é obviamente variável, mas a empresa dispõe da água necessária. As represas e os furos têm cerca de 20 milhões de litros.

A apanha da arbequina é realizada com a mesma máquina de apanha da uva. As azeitonas da restantes cultivares são colhidas com recurso a varejadores pessoais, eléctricos. Os frutos caem directamente para o reboque do tractor, explica Jorge Santos.

As azeitonas cobrançosas destinam-se unicamente a conserva. O azeite é produzido no lagar de outra empresa. É sobretudo virgem extra, extraído a frio, comercializado com a marca Visconde de Borba. A produção varia entre os 25.000 e os 30.000 litros. A construção dum lagar de azeite está a ser ponderada.

Artigo publicado na edição de janeiro/fevereiro/março de 2016 da revista ENOVITIS

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