Investigação testa extratos de ervas daninhas no controlo de lagartas

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Uma pesquisa desenvolvida pela Embrapa Meio Ambiente (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) está a utilizar extratos de ervas daninhas como inseticidas. A descoberta parece apontar para o melhor dos mundos na agricultura – o aproveitamento de um vegetal sem valor comercial e ainda o surgimento de um novo defensivo natural, que pode ser usado em cultivos orgânicos.

Cientistas avaliaram os extratos das espécies vegetais Clerodendrum splendens, Conyza canadensis, Tithonia diversifolia e Vernonanthura westiniana. Os resultados apontaram para um surpreendente efeito inseticida dessas quatro plantas no combate às lagartas Helicoverpa armigera e Anticarsia gemmatalis, duas das mais temidas pragas agrícolas.

Contra a A. gemmatalis, por exemplo, a bioatividade da planta daninha Vernonanthura westiniana provocou uma mortalidade de até 80%. O bioinseticida feito à base de Clerodendrum splendens, por sua vez, eliminou mais de 60% da população da praga, com base na redução do aumento de peso de larvas e de pupas.

A investigadora da Embrapa Jeanne Marinho-Prado, uma das autoras do estudo, explica que a relação entre insetos e plantas é regulada por substâncias denominadas aleloquímicos. Ao serem libertadas pelos vegetais, são percebidas pelos insetos e podem agir como estímulos sobre o seu comportamento ou alterar características do seu ciclo. A praga pode receber um estímulo para continuar a alimentar-se (fagoestimulante) ou para parar com a alimentação (fagoinibitória).

“O objetivo foi avaliar se os extratos feitos com cada uma das quatro espécies de plantas apresentam ação inseticida ou nociva ao desenvolvimento das lagartas de H. armigera e A. gemmatalis, via ingestão”, conta Jeanne. Ela lidera uma equipa que integra mais três cientistas: Sonia Queiroz, Simone Prado e Marta Assis.

A descoberta das brasileiras significa ainda uma luz de esperança contra um sério problema enfrentado pela agricultura convencional: a resistência dos insetos aos agroquímicos atuais. Até mesmo as plantas transgínicas com Bacillus thuringiensis (Cry1Ac) já dão os primeiros sinais de que podem perder sua proteção contra as lagartas, uma vez que estão a surgir insetos híbridos oriundos do cruzamento entre Helicoverpa armigera e Helicoverpa zea que atacaram soja geneticamente modificada no Brasil.

Investigação testa extratos de plantas daninhas no controlo de lagartas

E é justamente a Helicoverpa armigera o próximo alvo das pesquisas da Embrapa. Nos primeiros testes, a daninha V. westiniana causou mortalidade de apenas 20% da população avaliada de lagartas desta espécie. As etapas seguintes dos ensaios vão abranger a identificação das moléculas responsáveis pela ação de antibiose – que provoca mortalidade ou redução de tamanho, peso, longevidade e fecundidade.

“Inseticidas com alto grau de toxicidade ou de grande persistência no ambiente vêm sendo proibidos em diversos países, e observa-se aumento da ocorrência de populações de insetos resistentes aos produtos que permanecem regulamentados. Além disso, tem aumentado a quantidade de insetos resistentes às plantas transgénicas, reduzindo a eficiência dessa tecnologia. Esses fatores motivam a busca por moléculas que sirvam de base para o desenvolvimento de novos produtos a serem utilizados no controle de pragas, com diferentes oportunidades de pesquisa visando a rotação de compostos ativos dentro do manejo integrado de pragas. Acresce ainda um crescente interesse pela produção biológica de alimentos, que pode ser beneficiada com a identificação de novos extratos de plantas com potencial para a aplicação contra insetos-praga”, justifica o estudo.

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