Por: Bernardo Madeira
Geralmente a floração do mirtilo prolonga-se, dependendo das variedades e locais, entre 2-3 semanas. A forma da flor e a sua posição invertida não proporcionam boas condições para que se realize a polinização através do vento, dita anemófila.
Por outro lado, verifica-se que existe uma frequente auto-incompatibilidade do pólen das flores, isto é, nem sempre o pólen consegue fecundar as flores da mesma planta ou da mesma variedade mesmo que de plantas diferentes.
Apesar de raramente não se registar a formação de fruto numa planta, o calibre da fruta está interligado ao número de semente que esta contém, e por sua vez o número de sementes depende do número de óvulos que foi eficazmente polinizado.
Por este motivo, é muito frequente ver-se referida a necessidade de existir mais do que uma variedade de mirtilos no pomar. Assim como a pertinência de ser estimulada a presença de insetos polinizadores, especialmente abelhas e abelhões (bombus), para realizarem o papel da polinização cruzada entomófila.
Nos últimos dois anos temos visto uma forte procura por plantas de variedades “rabitteye” ou seja, da espécie de mirtilo Vaccinium virgatum sin. Ashei.
As variedades de mirtilo desta espécie são ainda mais dependentes da polinização cruzada do que a maioria das espécies comerciais, apresentando grandes taxas de auto-incompatibilidade. Porém, temo-nos apercebido que o cuidado dos produtores em “diversificar” o seu pomar tem sido reduzido, e a preocupação em estabelecer os melhores pares quase nula!
Na tabela que publicamos neste artigo (extraída do livro “Cultura do Mirtilo – Engebook”) podemos constatar que a polinização cruzada pode permitir, não só, um interessante aumento do número de frutos vingados (que pode chegar a quase 60%), mas também a um aumento do peso dos frutos, e por inerência do seu calibre.
Algumas variedades, de entre as apresentadas na tabela, exprimem de forma diferente os benefícios da polinização cruzada, como é o caso da Duke, que embora beneficiando da polinização cruzada mostra uma boa auto compatibilidade.
Contudo, mesmo na variedade Duke, uma aparentemente inexpressiva redução de apenas 5% do peso do fruto pode significar menos 500 kg de fruta por ano! E o impacto da má polinização, na variedade Duke (por falta de polinização cruzada), pode levar a uma redução de cerca de 10% na percentagem de frutos vingados, o que tem um impacto multiplicado sobre a produção!
O produtor nem se apercebe dos erros de conceção do seu pomar, porém, a inexistência de variedades para realizar a polinização cruzada vai existir e o potencial produtivo ficará para sempre afetado.
Os produtores de kiwi sabem bem a importância de assegurar uma excelente polinização, e nesse caso é bem evidente que o aumento do peso do fruto, e também do seu calibre, estão diretamente relacionados com o número de sementes vingadas por fruto. O facto de os frutos terem mais sementes não é uma casualidade.
Um maior número de sementes implica uma maior produção de fito-hormonas o que gera, potencialmente, uma maior capacidade de crescimento do fruto pela concorrência pelos nutrientes.