O I Congresso Ibérico do Milho começou esta quarta-feira, no Altis Grand Hotel, em Lisboa.
Texto e Fotos: Ana Clara
O evento, que reúne diversos especialistas para debater temas centrais na produção de milho e na agricultura do Sul da Europa, está também a refletir sobre problemas como as alterações climáticas, a Política Agrícola Comum pós 2020, a agricultura e coesão do território e o tema da inovação e competitividade.
Na manhã do primeiro dia do Congresso as opiniões dos oradores foram unânimes: a Agricultura é um setor primordial para o país e para o crescimento da economia portuguesa.
“A importância da Agricultura na coesão do território” foi o tema do primeiro painel da manhã e que contou com a comunicação de Henrique Pereira dos Santos.
Na sua intervenção, o arquiteto paisagista falou de como se deu a transição da base orgânica para a agricultura moderna. Entre essas mudanças, destacou: «a abertura dos ciclos por reforço dos fluxos, a mudança de estrume para adubos, o aumento das acessibilidades e da mecanização, isto é, a substituição do trabalho animal por energias fósseis, produzir para vender e não para comer».
O especialista deu ainda conta, através de diversos mapas, da evolução da área de milho em Portugal em 1943 e em 1999.
Para Henrique Pereira dos Santos, «pagar a gestão de serviços de ecossistemas não remunerável pelo mercado é o caminho mais eficiente para um território sustentável, equilibrado, que sirva as pessoas que dele vivem e as que o usam».
«Infelizmente as políticas públicas tendem a refletir mais o que pensam as pessoas que as influenciam que os interesses das pessoas comuns, frequentemente confundidos com os interesses do Estado», alertou.
O arquiteto paisagista disse também que «há espaço para aumentar o valor de mercado da sustentabilidade (incluindo social), há espaço para melhores mercados públicos, melhores políticas públicas, mas tudo isso implica compreender melhor a gestão das paisagens».
E não tem dúvidas: «a absurda via legal e repressiva de gestão do problema do fogo é talvez o exemplo mais evidente da falta de juízo e conhecimento da evolução do mundo rural por parte de quem decide».
«Nas terras marginais é essencial inovar e criar valor»
Para Henrique Pereira dos Santos «nas terras marginais é essencial inovar e criar valor».
A corroborar as suas palavras esteve Francisco Cordovil, professor aposentado do ISCTE, que afirmou que «a causa principal dos incêndios em Portugal é a ausência de Agricultura».
Para o especialista, «a ocupação e uso do solo é essencial» e lembrou que «faltam corredores agroecológicos que protejam os sistemas». «E e há facto que todos sabemos é este: o país agrícola não arde e o país onde a Agricultura desapareceu arde».
Por seu lado, o economista João Ferreira do Amaral foi claro no início da sua intervenção, clarificando com números o peso do setor agrícola na economia portuguesa: «a agricultura e a silvicultura representam 20% das nossas exportações e são essenciais para alcançar a neutralidade carbónica».
O docente do ISEG concorda que o setor das florestas tem de ser, nesta matéria, «prioritário para qualquer Governo».
Também Jorge Coelho, antigo ministro das Obras Públicas, e que integra o “Movimento pelo Interior” (que reúne autarcas, empresários e académicos), alertou para a «extrema necessidade da descentralização de competências».
«A luta pela defesa e desenvolvimento do Interior bem como pela coesão social e territorial é essencial e urgente há décadas», sublinhou o ex-ministro, ao mesmo tempo que relembrou números e estatísticas «duros» para a realidade do país e do fosso Litoral/Interior.
O também empresário falou ainda do seu regresso às origens, em Mangualde, num projeto que é também uma homenagem ao seu avô.
Na queijaria Vale da Estrela investiu dois milhões de euros, contratou mulheres desempregadas e relançou a fileira do queijo, contando já com uma marca DOP – Denominação de Origem Protegida – da Serra da Estrela, que exporta para a China, Brasil, Espanha e França.
Durante a tarde deste 13 de fevereiro, o tema em debate foi a inovação e os desafios para as próximas décadas, onde vários agentes do setor, em Portugal e Espanha, partilharam os testemunhos dos seus projetos. Entre eles, Francisco Manso, da Trigger Systems, José Maria Guevara, da Universidade Politécnica de Madrid, e Ana Ermesto, da Intia, Espanha.
Destaque ainda para as comunicações de Dulce Freire, do Instituto de Ciências Sociais de Lisboa, que fez uma resenha histórica do milho e do seu desenvolvimento na Península Ibérica, e de Elvira Fortunato, engenheira de materiais e docente na Universidade Nova de Lisboa, Engenheira de Materiais. Na sua comunicação falou do seu trabalho na área da revolução da eletrónica de papel e da eletrónica transparente.
Recorde-se que Elvira Fortunato criou com o marido, o cientista Rodrigo Martins, o primeiro transístor de papel, invenção que promete revolucionar hábitos quotidianos e práticas empresariais, passando, por exemplo, pelo reforço das chamadas embalagens inteligentes e interativas.
O I Congresso Ibérico do Milho decorre até 14 de fevereiro e reúne 632 agricultores e técnicos agrícolas em Lisboa.
Recorde-se que a cultura do milho na Península Ibérica ocupa uma área que ronda os 650 mil hectares.
O evento é uma organização conjunta da Anpromis – Associação dos Produtores de Milho e Sorgo de Portugal e da Agpme – Associação Geral dos Produtores de Milho de Espanha.
Leia a reportagem completa na edição n.º 30 da Revista AGROTEC.