Texto e Fotos: Ana Clara
No último dia do Congresso Ibérico do Milho, que terminou esta quinta-feira, em Lisboa, debateram-se temas cruciais para o setor do milho, entre eles, as alterações climáticas e os seus impactos na agricultura, a competitividade da produção de milho nos países do sul da Europa e os desafios que se colocam a Portugal no século XXI.
Pilar Galon, do Ministério da Agricultura, Pescas e Alimentação de Espanha, abordou o tema da produção de milho no país vizinho, sendo que este cereal «é uma das grandes culturas do setor agrícola espanhol e de grande importância também ao nível do regadio».
A responsável deu a conhecer os números espanhóis do setor ao nível da evolução da superfície e produção, os principais destinos de importação do país, bem como os preços médios praticados no mercado castelhano.
Entre as debilidades que atravessa o mercado em Espanha, a especialista destacou o elevado consumo de água e outros consumos ao nível dos custos de produção, preços pouco atrativos e o facto de haver outros países com produções mais competitivas.
Quanto às ameaças, a técnica do Ministério espanhol salientou uma «crescente concorrência internacional, novos cenários de alterações climáticas (escassez de água, fenómenos extremos, etc.), redução de água perante momentos de seca, volatilidade dos preços e dependência das suas importações». Contudo, a responsável realçou que há também oportunidades que o mercado «pode e deve aproveitar, nomeadamente, o desenvolvimento tecnológico (Agricultura de Precisão) e as vantagens da Política Agrícola Comum (PAC).
Luís Souto Barreiros, do Gabinete de Políticas Públicas (GPP), deu a conhecer as orientações essenciais da estratégia portuguesa para a promoção da produção de cereais. E começou com um alerta: «somos dos países que tem dos mais baixos níveis de autoaprovisionamento da Europa e do mundo ao nível dos cereais. E esta deve ser uma das nossas principais preocupações, já que está em causa as insuficiências alimentar e energética também».
Entre elas, destacou a necessidade de reduzir a dependência externa, consolidar e aumentar as áreas de produção, criar valor na fileira e a viabilização da atividade agrícola em todo o território.
Basicamente o que esta Estratégia sugere é simples: «produzir mais e melhor, melhorar a eficiência produtiva, reduzir os custos de produção, potenciar a inovação e a transferência de conhecimento, reforçar a organização de produtores e a interligação entre os agentes da fileira, promover ações de mitigação e adaptação às alterações climáticas e estabilizar e melhorar o rendimento dos agricultores».
Entre as medidas prioritárias a curto prazo, Souto Barreiros destacou a medida 1 da Estratégia (racionalizar os custos de energia, através de medidas de melhoria de eficiência energética), a medida 4 (acompanhar o processo de reconhecimento de OP), a medida 5 (simplificar o processo de licenciamento de infraestruturas hidráulicas), entre outras.
Já Margarida Oliveira, do ITQB, da Universidade Nova de Lisboa, abordou a questão das ferramentas biotecnológicas e as soluções inovadoras para a proteção de culturas.
«É preciso produzir mais para acompanhar o crescimento populacional e a melhoria da qualidade de vida das pessoas», disse.
A investigadora alertou também para a importância do potencial genético e para as questões ambientais para regular o crescimento e desenvolvimento da planta e lembrou os agricultores que «a maioria dos genes só funciona quando as proteínas certas se ligam entre elas».
Margarida Oliveira enumerou ainda algumas pragas e doenças que afetam a agricultura em Portugal e no mundo, no caso, os cereais. «40% da produção global agrícola mundial anual perde-se devido a pragas e doenças», alertou.
As alterações climáticas foi outro tema em debate no Congresso. Cristina Lobillo Borrero, Chefe de Gabinete do Comissário Europeu para a Ação Climática e Energia, abordou a ação para o clima e energia na União Europeia e as prioridades da Comissão Europeia nesta matéria. No que respeita à Agricultura, setor incluído nesta Estratégia, para a responsável «é essencial que clima e agricultura sejam aliados neste combate».
Por seu turno, Francisco Avillez, professor catedrático do ISA, e coordenador científico da AGROGES, abordou a importância do Roteiro para a neutralidade carbónica e os desafios para a agricultura portuguesa, que assumiu atingir a meta em 2050. São vários os setores incluídos neste roteiro: os transportes, a energia e a indústria, resíduos e águas residuais, agricultura, floresta e uso dos solos e a economia circular.
«À agricultura portuguesa irá caber um contributo significativo para a neutralidade carbónica através da redução das emissões de metano, de óxido nitroso e de dióxido de carbono resultantes das respetivas atividades de produção vegetal e animal», frisou Avillez.
O académico lembrou que atualmente as emissões de Gases com Efeito de Estufa (GEE) com origem na Agricultura portuguesa resultam de 15,7% das atividades de produção vegetal, 61,5% das atividades associadas com o efetivo bovino leiteiro e não-leiteiro e 22,7% das atividades associadas com o restante efetivo animal.
«É, pois, fácil antever que uma futura descarbonização da agricultura portuguesa vai exigir um contributo muito mais significativo do setor animal do que do vegetal», concluiu.
Durante a tarde deste último dia de Congresso Ibérico do Milho esteve ainda em discussão a PAC pós 2020.
O I Congresso Ibérico do Milho realizou-se em Lisboa, nos dias 13 e 14 de fevereiro, e reuniu 632 agricultores e técnicos agrícolas.
Recorde-se que a cultura do milho na Península Ibérica ocupa uma área que ronda os 650 mil hectares.
O evento é uma organização conjunta da Anpromis – Associação dos Produtores de Milho e Sorgo de Portugal e da Agpme – Associação Geral dos Produtores de Milho de Espanha.
Leia a reportagem completa na edição n.º 30 da Revista AGROTEC.
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