Frutos Vermelhos: sempre a crescer!

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São as ‘estrelas’ das exportações nacionais de fruta e as perspetivas mantêm-se positivas: a palavra de ordem é crescer em área e alargar o tempo de produção. O clima nacional é o que marca a diferença na qualidade dos frutos. A framboesa ocupa lugar cimeiro, com mais de 60% da produção, colocando Portugal num lugar de destaque na Europa, mas mirtilo e amora também estão a progredir. A quase totalidade do que se produz destina-se à exportação.

Para esta contabilização de frutos vermelhos estamos a falar de framboesa, amora, mirtilo e groselha, já que o morango é um caso à parte. Em 2016, estes frutos representaram 117 milhões de euros de vendas para o exterior, deixando à laranja o segundo lugar das exportações nacionais de fruta, com 81 milhões de euros e o terceiro à pera Rocha, com 71 milhões. Para avaliar as perspetivas do setor falámos com grandes empresas e Organizações de Produtores (OP), mas também com quem produz. Os objetivos passam por aumentar área e produção, estendendo-a o mais possível, as maiores vantagens são clima e solo, enquanto nas dificuldades a mão-de-obra está no topo da lista.

A Driscoll’s Portugal é a empresa líder nacional na comercialização de pequenos frutos (framboesa, amora e mirtilo) e integra o universo mundial da Driscoll’s Worldwide, empresa líder mundial na produção de pequenos frutos (framboesa, amora, morango e mirtilo) originária da Califórnia (EUA). António Corrêa Nunes, country manager da empresa explica-nos que “os nossos produtores distribuem-se atualmente pelas regiões do Algarve, Litoral Alentejano e Ribatejo”, mas “encontramo-nos a estudar possíveis outras regiões nacionais onde possamos desenvolver o nosso negócio”.

O também diretor de operações salienta que “Portugal é hoje um dos países mais importantes na estratégia europeia da Driscoll´s sendo o principal produtor de framboesa da Europa” e “no projeto da Driscoll’s Portugal a exportação representa cerca de 98% do nosso volume de negócios”.

Maior dimensão e escala

O responsável adianta que “a médio prazo os objetivos passam por crescer sustentadamente o negócio e tornar os nossos produtores cada vez com maior dimensão e escala. Em termos operacionais queremos investir e inovar em todas as partes da cadeia de valor que nos permitam estar mais competitivos e eficientes”.

António Corrêa Nunes diz ainda: “Queremos também sedimentar o nosso modelo de negócio integrado”. Um modelo que se baseia no desenvolvimento de variedades próprias com foco na produtividade, características sensoriais/visuais e shelf-life; em parcerias estáveis e duradoras com OPs (como a Lusomorango e a Madrefruta) e produtores independentes, que plantam as variedades Driscoll’s e produzem a fruta de acordo com as normas/requisitos da empresa; e a comercialização da fruta sob as marcas Driscoll’s e Berry Valley.

Frutos Vermelhos: sempre a crescer!

“Temos de facto, e em termos de futuro, em Portugal um plano de investimentos muito ambicioso”, assegura.

O country manager considera que as principais vantagens do nosso país para a produção de Frutos Vermelhos são a “qualidade dos solos e da água. Infraestruturas em perímetros de rega de enorme qualidade e estratégicas para uma agricultura competitiva. Climas muitíssimo adequados e que permitem a produção ao longo de todo o ano e de enorme qualidade”, para além de “know-how, profissionalismo, experiência e competitividade para a produção de pequenos frutos”.

Do lado das dificuldades/obstáculos, que António Corrêa Nunes diz “encarar mais como desafios”, estão: “Criar condições operacionais para tornar a nossa operação cada vez mais competitiva; Tirar o máximo proveito do perímetro de Rega do Mira e dos outros perímetros de rega onde estamos inseridos; e Mão-de-obra necessária para o crescimento do nosso negócio”.

O diretor de operações da Driscoll’s Portugal tinha afirmado recentemente na Conferência da VIDA RURAL dedicada à ‘nova fruticultura’, que o País “tem elevado potencial no mirtilo e também tem potencial na amora”, anunciando que em 2018 a empresa vai fazer um investimento de seis milhões de euros num novo armazém de frio na Zambujeira.

Forte aposta na framboesa

Gonçalo Santos Andrade, vice-presidente da Lusomorango – a maior OP nacional de frutas e legumes em volume de negócios e que tem uma parceria de comercialização com a Driscoll’s – disse-nos, em Madrid, no decorrer da Fruit Attraction, que o objetivo da Organização “é de chegar a 2020 com um volume de negócios na ordem dos 95 milhões de euros”, sendo que “o plano de crescimento tem uma forte aposta na framboesa, mas também no mirtilo”, apostando em variedades que permitam a produção durante quase todo o ano. Em 2016 a Lusomorango (que hoje já não produz morango) tinha 34 acionistas e registou um volume de negócios de 44 milhões de euros, com a exportação a representar 67% das vendas.

Já a OP Bfruit, com sede em Guimarães, tem uma parceria com a Multiberry (belga/holandesa) e a presidente do conselho de administração, Fernanda Machado, contou-nos – também na Fruit Attraction – que “as nossas apostas são: consolidar os clientes que já temos; crescer em cerca de mais 100 hectares na framboesa no sul do País e dentro de cinco anos atingir uma faturação de cerca de 30 milhões de euros”.

Esta OP trabalha com cerca de 140 produtores de pequenos frutos. Mas a Bfruit engloba produtores de morango, framboesa, mirtilo, amora, groselha e kiwi, abrangendo uma área de produção de cerca de 250 hectares distribuída de norte a sul do País. Exporta cerca de 95% da sua produção para países como a Holanda, a Bélgica, a Itália, o Reino Unido, o Brasil, a França, a Alemanha e os Emiratos Árabes Unidos.

Frutos Vermelhos: sempre a crescer!

Fernanda Machado diz agora à VIDA RURAL “em 2016 a Bfruit atingiu um volume de vendas próximo das 600 toneladas de fruta e para 2017 prevê ultrapassar as 1.000 toneladas. Para 2018, espera-se um volume total de produção de 1.500 toneladas”.

A responsável adianta que “a framboesa é o fruto mais expressivo representando 63% do total de produção e comercialização. Em segundo lugar encontra-se o mirtilo com 19%, de seguida o morango que assume uma percentagem de 12%, a groselha ocupa 4,5% da produção e comercialização e o fruto menos expressivo é a amora com apenas 1,5%”.

Aumentar a área de mirtilo

Falámos também com dois associados desta OP: Maria Aline Colaço, produtora de mirtilo em Resende e Jorge Godinho, que produz framboesa em Odemira.

Maria Aline tem uma quinta com aproximadamente cinco hectares, sendo que 1,2 hectares está ocupado com uma plantação de mirtilos em solo e em vasos. Na restante área tem vinha e uma plantação recente de cerejeiras.

A gestora da Quinta dos Casais diz-nos que tem “como objetivo aumentar a área de plantação para mais dois hectares também de mirtilo, o que corresponde a mais 8.000 plantas. Neste momento tenho 4.000 unidades. Mas também penso em plantar cerejeiras, em número muito inferior, para venda local em modo biológico”. Assegura que “a minha produção de mirtilo é um negócio sério, pensado e projetado para ser bem sucedido e para ter lucro, por essa razão foi feito um investimento substancial de forma a montarmos toda a estrutura necessária e faz parte do meu objetivo viver só da rentabilidade desta produção”, para isso: “Contei com a ajuda de grandes empresas que estiveram diretamente envolvidas, como a Espaço Visual, Bioberco e Bfruit”.

Maria Aline Colaço garante que “em Portugal a produção de mirtilo acaba por ser mais rentável que outra produção. Contudo, há que produzir de uma forma séria, procurando informação e adquirir os conhecimentos para a realização de um bom trabalho. Aconselharmo-nos com os melhores profissionais e ver explorações de sucesso e outras com menos, quanto mais não seja para perceber como não fazer!”. Alerta que “o verdadeiro problema está no escoamento do fruto tanto localmente mas principalmente para as grandes superfícies no nosso país”, por isso adianta que “percebi que só teria sucesso se me juntasse a outros produtores (bons produtores – os que fazem bem). Resolvi fazer parte de uma OP (Bfruit). Ficando assim com todos os meus problemas resolvidos, preocupando-me só em produzir muito mas principalmente fruta de qualidade e de excelência”.

A produtora salienta que “a colheita é de facto o maior custo que temos, pois quando a produção se encontra em velocidade cruzeiro, para realizar a colheita são necessárias 20 a 30 pessoas diariamente por hectare, isto numa colheita manual. O custo hora ou dia, mais seguros e segurança social é elevado. Para além disso também os produtos que são aplicados nas plantas via fertirrega ou via foliar são um custo” e diz ainda: “Na altura da plantação a compra das plantas também é dispendiosa”.

A gestora sublinha que “Portugal tem uma vantagem enorme relativamente aos outros países concorrentes, o clima. E das informações que vou tendo, produz mais cedo e a fruta apresenta um sabor mais doce”.

Mão-de-obra pode representar 20% a 40%

Por seu lado, Jorge Godinho, que é associado da Bfruit com o filho Telmo Godinho, diz-nos que “na altura em que nos iniciámos neste negócio da produção agrícola, a cultura dos frutos vermelhos encontrava-se em grande ascensão, verificando-se uma constante procura dos mercados nestes produtos” por isso decidiram avançar.

O produtor afirma que “a produção de framboesa é, regra geral, um setor de atividade onde o retorno do investimento se alcança num curto/médio período de tempo, quando comparado com outras produções, nomeadamente a produção de mirtilo em que o tempo que vai entre a plantação e a colheita da primeira fruta ronda um ano. Na produção da framboesa esse período de tempo varia entre dois a cinco meses, consoante as condições e as caraterísticas da plantação”.

Jorge Godinho diz-nos que “nestes dois anos de atividade conseguimos duplicar a nossa área de plantação e esperamos, num período máximo de dois anos, realizar mais um aumento da área plantada” acrescentando que, com “a procura destes frutos por parte dos mercados no Norte da Europa, América e Oriente é muito grande, fazendo com que este seja um setor bastante atrativo e que pode ser muito rentável”. Mas, alerta: “Os montantes de investimento inicial são elevados, considerando todo o necessário em estruturas galvanizadas, sistemas de rega, equipamentos agrícolas, plantas, entre outros, sendo, por isso, este o valor que mais peso tem, em termos financeiros, mas existem outros gastos operacionais com um impacto enorme para o desenvolvimento da produção, como é o caso da mão-de-obra”. E o produtor adianta que “sendo que a framboesa é um fruto bastante delicado todo o processo de produção envolve mão-de-obra, desde a plantação, a manutenção e a colheita”, frisando que “os gastos com essa mão-de-obra podem representar entre 20% a 40% do valor das vendas”.

Depois de considerar que o clima nacional, principalmente em Odemira onde tem a sua produção, é a principal vantagem do País, Jorge Godinho destaca a mão-de-obra como o principal obstáculo, mais ainda tendo em consideração que “a quase totalidade das pessoas que trabalham nas explorações agrícolas são estrangeiros que vêm de países como a Ucrânia, Bulgária, Tailândia, Nepal, Índia. São essas as pessoas que tornam possível a concretização da maioria dos trabalhos, nomeadamente a colheita, mas existem muitos problemas associados também a esta realidade, como é o caso da grande dificuldade de comunicação, na passagem de informação de como devem ser executadas as tarefas, etc.”.

Também este produtor frisa a importância de se associar a uma OP: “Junto destas Organizações é possível obter apoio técnico qualificado que guiará o produtor no desenvolvimento deste setor de atividade tão delicado, porque, em especial a framboesa, é um fruto muito delicado, que necessita de tratamentos e atenções especiais” e sublinha que “não menos importante, é a tomada de consciência que este é um setor de atividade a tempo inteiro, que requer muito dedicação e, paixão até, pelo que se faz. Exige uma atenção diária para com as plantas e toda a envolvente para que se consiga obter fruta de qualidade cumprindo, assim, com as exigências dos mercados”.

Produção fora de época e noutras zonas

Outro player importante do setor dos pequenos frutos é a Beirabaga, fundada em 1991 no Fundão. David Horgan, filho do fundador (Bernardo Horgan), acionista e diretor financeiro, explica que a empresa nacional tem “planos para aumentar áreas de produção aos poucos dentro das mesmas culturas (framboesa, amora, groselha e mirtilo), focando-nos nas alturas em que há menos fruta no mercado e em que é mais valorizada” e adianta: “Em termos de zonas geográficas, a ideia será aumentar a área no Algarve e iniciar também na zona de Odemira. Não planeamos necessariamente exportar para mais países, mas sim aumentar o volume de exportação para os mercados onde já estamos presentes”.

A Beirabaga exporta mais de 50% da produção para Espanha, França, Holanda, Reino Unido, Polónia, Itália e Suécia, trabalha com cerca de 50 produtores nacionais “e um número menor de estrangeiros quando não há produção nacional”. A framboesa representa 60% da produção e a empresa também comercializa physalis.

A empresa tem sempre procurado inovar no setor e recentemente lançou embalagens de granola (feita também pela Beirabaga) com frutos vermelhos, adaptando-se aos novos hábitos de consumo com um snack saudável que se pode comer em qualquer altura.

David Horgan salienta que “um dos maiores desafios nesta área tem sido a disponibilidade de mão-de-obra”, por isso, para quem pretenda produzir pequenos frutos aconselha que “será muito importante perceber quais vão ser as necessidades de mão-de-obra em campanha e quais as formas de suprir essas necessidades”. O responsável diz ainda que “seria bom procurar aconselhamento técnico, uma vez que são plantas que precisam de cuidados muito específicos. Finalmente, aconselho qualquer novo produtor a fazer uma análise cuidada e cautelosa do negócio, quais os impactos que uma má campanha com preços baixos teria e qual a capacidade de absorver esse impacto. Numa área em que não tem havido inflação, e em que o custo de mão-de-obra, que tem vindo a subir a assim vai continuar, representa de longe a maior fatia dos custos, é necessário fazer uma gestão muito cuidada de todos os recursos”.

O diretor financeiro da Beirabaga também salienta que “a maior vantagem é o nosso clima” e do lado das dificuldades destaca: “Trabalhamos com um tipo de fruta muito perecível, de forma que o facto de sermos um país periférico, distante dos principais mercados do norte da Europa acaba por ser um dos principais obstáculos. Outro já referido anteriormente, esse sim talvez neste momento o principal, é a pouca disponibilidade de trabalhadores na agricultura”.

Muito além dos frutos frescos

Nuno Pereira é um jovem empresário de Oliveira do Hospital e diz-nos que “a Lusoberry é uma empresa que foi criada este ano e que pretende realizar vários investimentos nos próximos anos na área agrícola e no desenvolvimento de produtos”, mas a marca já tinha sido criada há dois anos. O gestor adianta à VIDA RURAL que “o futuro passa por ter até 2020 cerca de 100 hectares de plantações, onde se destacam o mirtilo e a framboesa, mas também novas espécies de fruta que o mercado procura”. Diz ainda que “também iremos ter novos produtos, que já passaram a fase de teste e que irão sendo introduzidos no mercado”.

A empresa foi afetada pelos incêndios de 15 de outubro na região: “tivemos um revés, pois ardeu uma plantação nova de mirtilos (0,5 hectares) que ia entrar em produção para o ano, mas temos de fazer outra vez e atrasar mais um ano. A plantação era para produzir em maio, que é quando o mercado ainda não tem fruta”.

Nuno Pereira refere que “além da produção própria, também temos já plantações de produtores com as variedades de mirtilo e framboesa que comercializamos. Temos também o campo de testes de mirtilo com a multinacional Driscoll`s que irá produzir para o ano, depois de um ano de plantação. Essa parceria foi efetuada em 2016 e decidirá muito do nosso desenvolvimento”.

Frutos Vermelhos: sempre a crescer!

O empresário agrícola considera que “a produção de frutos vermelhos irá crescer muito no nosso país e cada vez será mais rentável” mas, frisa que “temos alguns problemas em Portugal que não fazem com que esta cultura seja dinâmica. Falo de falta de regadio, de mão-de-obra, de acesso a fornecedores de todo o tipo de produtos e equipamentos e sobretudo falta de apoio”. Refere ainda que “o que encarece mais estas culturas começa nas empresas que executam os trabalhos, que não o fazem como deveria ser, não plantam como deveriam plantar, aliado, muitas vezes, a falta de conhecimento técnico que faz com que o País gaste milhões a apoiar plantações que depois não se traduzirão efetivamente em valor acrescentado para a economia”.

Os subprodutos que a Lusoberry tem vindo a lançar “pretendem criar um ‘apetite’ por estes produtos e culturas. Se não mostrarmos a potencialidade deles, nunca se passará do mesmo. Temos já o Mirtilão, o azeite com extrato de mirtilo, o licor de mirtilo, o vinho de mirtilo, a sidra de mirtilo, a cerveja de mirtilo, as barras de mirtilo, o chá de folhas de mirtilo, os cosméticos, as compotas, o mel, e mais produtos virão. Todos feitos em Portugal”.

Nuno Pereira afirma que “a fruta é essencialmente para exportação, já relativamente aos produtos os mercados alvos, neste momento, são o nacional e o ‘mercado da saudade’”.

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