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Bruxelas foi esta terça-feira (27 de março) palco da 11ª edição do ‘Forum for the Future of Agriculture’ (FFA), uma organização da Syngenta e da European Landowners Organization (ELO). Sob o mote ‘Healthy Farming, Healthy Food, Healthy Future’, a edição deste ano reuniu cerca de 1200 pessoas para debater um futuro de ação concertada entre a agricultura e o ambiente por um planeta mais sustentável.
Janez Potočnik, Chairman do FFA, abriu o evento referindo que “precisamos de lideranças inspiradas para conseguir um futuro saudável, para transformar as nossas explorações agrícolas e modelos económicos e para criar mudanças reais no terreno que vão ao encontro dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas. Todos nós, desde os agricultores aos consumidores, aos políticos e líderes de negócios, precisamos de fazer parte desta disrupção positiva na nossa forma de pensar e nas ações que nos conduzirão para segurança alimentar e ambiental”.
Para além disso, o responsável afirmou que “não valorizamos o nosso capital ambiental, desvalorizamos a mão de obra e sobrevalorizamos os ganhos financeiros a curto prazo. Se queremos ser sustentáveis, devemos curar a doença e não apenas tratar os seus sintomas.” O Chairman do FFA terminou pedindo aos presentes para pararem “de fazer workshops e fotos de grupo sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. A mudança não vem de os colocarem como um anexo nos vossos relatórios anuais”.
A Rainha da Jordânia, uma das convidadas da edição deste ano, reforçou esta ideia, referindo que “devemos ter maior urgência nas nossas ações. A natureza interconectada das alterações climáticas e má gestão de recursos com a segurança alimentar e, por consequência, segurança humana, estão a ter profundas consequências internacionais atualmente”. Para além disso, a rainha com origem síria e norte-americana sublinhou que é preciso dar mais poder à mulheres na agricultura uma vez que estas são “o pilar da produção alimentar e do sustento das famílias em muitas comunidades”.
Massimo Bottura, chef do restaurante italiano Osteria Francescana e fundador da organização Food for Soul, que se dedica à preparação de refeições com alimentos desperdiçados para pessoas em situação de vulnerabilidade social, sublinhou durante a sua intervenção que é preciso mudar a perceção do que é desperdício. Na sua opinião, “comida desperdiçada é igual a ingredientes normais”.
Para além disso, Bottura defendeu que “a comida é uma ferramenta poderosa para a mudança”, razão pela qual decidiu lançar uma organização que pretende devolver dignidade aos momentos de refeição de pessoas que de outra forma de não teriam a oportunidade de desfrutar de uma refeição assim.
O chef italiano sublinhou ainda também os chefs devem ter hoje um papel ativo na transição para um mundo mais sustentável: “há 20 anos atrás, quantas vezes viam um chef em cima de um palco? Os chefs raramente saíam dos seus restaurantes. Hoje, temos uma voz”.
Já Louise O.Fresco, investigadora da Wageningen University & Research, defendeu a criação de um tratado internacional para a agricultura e alimentação que possa dar resposta “aos desafios de um futuro mais saudável”. De acordo com a investigadora, o futuro da alimentação e da agricultura passará não só pelo desenvolvimento de novas fontes de proteína, mas também pela utilização da tecnologia a favor da produção agrícola, nomeadamente com hortas verticais ou ecossistemas agrícolas controlados por tecnologias como LED ou sensores. “Devemos otimizar a utilização de todas as coisas que prejudicam as pessoas e o ambiente (…) Num futuro muito próximo, não podemos ter nos supermercados produtos que não sejam de origem sustentável”.
De resto, Louise O. Fresco acredita que para transitarmos para um mundo mais sustentável, devemos apostar na educação das crianças e jovens. “A educação para a agricultura deve começar mais cedo. As crianças aprendem sobre história e geografia, no entanto não são ensinadas sobre alimentação e água e deviam ser.”
Frans Timmermans, Comissário Europeu para Melhor Regulação e Relações Interinstitucionais, reforçou esta ideia, sublinhando que “a Europa só pode ser uma sociedade sustentável se encontrarmos o balanço certo entre as sociedades urbanas e rurais”.
Comissário Europeu para a Agricultura quer que o setor seja visto como “parte da solução”
Phil Hogan, Comissário Europeu para a Agricultura, foi um dos oradores convidados para debater o futuro da PAC e defendeu que esta é uma política da qual a Europa precisa: eu acredito genuinamente que sim. Nós precisamos que os nossos agricultores sejam valorizados e vistos como parte da solução e não como parte do problema.”
O responsável aproveitou a ocasião para lembrar que o Greening na PAC pós-2020 terá um novo sistema que substituirá o atual, nomeadamente com “objetivos mensuráveis e medidas ajustadas a cada Estado-Membro”.
Para além disso, Phil Hogan garantiu que no próximo mês de maio será feita uma proposta de reforço de legislação relativamente às práticas de comércio desleais. Segundo o Comissário, se forem aprovadas, estas medidas “irão reforçar a posição dos agricultores na cadeia de abastecimento alimentar europeia”.
*a jornalista viajou para Bruxelas a convite da Syngenta