FerBio: um corretivo agrícola orgânico

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Texto e Foto: Miguel Pereira

A realidade agrícola a nível mundial alterou-se drasticamente após a revolução industrial com a introdução da mecanização, que proporcionou uma extensificação da agricultura.

Técnicas como a lavoura tornaram-se possíveis a extensões de terreno muito maiores. Era comum ouvir-se dizer que uma lavoura era equivalente a uma adubação. Isto deve-se ao facto de uma mobilização tão intensiva potenciar a mineralização da matéria orgânica do solo, e simultaneamente controlar eficazmente as infestantes.

Anteriormente a estas práticas era feita uma agricultura sustentável que conciliava produções para consumo humano com a criação de gado, numa proporção que satisfazia pequenos grupos populacionais e simultaneamente promovia uma reciclagem dos nutrientes. Era frequente que os estrumes do gado devolvessem ao solo os nutrientes exportados e, a longo prazo, os teores de matéria orgânica seriam incrementados, aumentando a fertilidade dos solos. Isto era uma realidade mais expressiva ainda, quando antes da introdução da mecanização, todos os meios de tração seriam fontes de matéria orgânica.

Portugal beneficiou consideravelmente com estas práticas, instalando-se um regime predominantemente cerealífero que tornou o país autossuficiente em cereais e levou inclusivamente a região do Alentejo a ser considerada o “Celeiro da Nação”, no auge da Agricultura extensiva no país.

Contudo, estas práticas conduziram a um empobrecimento dos solos, bem como a uma perda considerável de solo por erosão causada pelas sucessivas mobilizações. Verificou-se assim uma degradação da fertilidade e a queda de teores de matéria orgânica, em solos que já teriam uma génese pobre.

A perda de matéria orgânica levou também a que a eficiência de aplicação de adubos químicos fosse cada vez menor devido à maior lavagem de nutrientes, que era impedida, ou reduzida, pela matéria orgânica presente no solo. Portanto, como resposta, aumentaram-se cada vez mais as doses. Estes aumentos proporcionaram também a contaminação de aquíferos com nitratos em determinadas regiões.

A curto prazo este conjunto de práticas funcionou, tendo possibilitado aos agricultores serem competitivos e produtivos. Porém, a perda de fertilidade afetou a rentabilidade da agricultura em Portugal, sendo o Alentejo a montra desta degradação, palco de fenómenos como o êxodo e desertificação.

Cabe assim à atual geração de agricultores e técnicos trabalhar conscientemente, no sentido de contrariar décadas de degradação dos solos, permitindo devolver aos solos a sua fertilidade, com a máxima de os melhorar a longo prazo para devolver a rentabilidade à agricultura nacional.

Alterações como esta são imperativas tendo em conta também a crescente dependência do regadio, que colide com as alterações climáticas, verificando-se cada vez mais períodos de seca agravada.

Neste campo, o incremento dos teores de matéria orgânica garante reduzir consideravelmente as dotações de rega, contribuindo para a poupança de água, e para o aumento da eficácia dos perímetros de rega e captações de água em profundidade, fomentando a sua longevidade e aproveitamento.

Assim, surgem no mercado diferentes tipos de matéria orgânica de diversas fontes, e é imperativo saber distinguir as diferenças na composição química e consequentes efeitos que terão no solo, de modo a eleger a melhor fonte de correção ao solo e também a melhor estratégia de fertilização.

Regra geral, todas as práticas agrícolas beneficiam com incrementos de teores de matéria orgânica, especialmente matéria orgânica estabilizada e altamente maturada. É este tipo de matéria orgânica que garante ser a melhor solução a longo prazo. Isto deve se ao facto de que o estado de maturação determina a velocidade com que estes produtos se decompõem no solo e se determinam como um corretivo ou um fertilizante orgânico.

Neste segmento de produtos surge uma panóplia de ofertas e é imperativo saber determinar quais os produtos que se adequam à estratégia de melhoramento a longo prazo das propriedades físico-químicas do solo. A oferta de formas de matéria orgânica é vasta e passa por estrumes, compostos, lamas de ETAR e formas de matéria orgânica líquida. Todo o tipo de produtos tem vantagens e desvantagens que deverão ser tidas em conta quando se efetua a escolha.

(Continua)

Nota: Artigo publicado na edição n.º 27 da Revista AGROTEC.

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