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A produção de frutas exóticas em Portugal está longe de ser pacífica. O que para uns parece ser uma oportunidade de negócio para muitos é uma aberração. Mas porque é que um país como Portugal, com vocação e tradição para produzir centenas de variedades de hortofrutícolas de grande qualidade, perfeitamente adaptadas às nossas condições edafo-climáticas, há-de apostar em frutos tropicais? A questão é legítima e importante, mas partir para a reflexão sem preconceitos também.
A introdução de novas culturas ou técnicas culturais nunca é pacífica, em Portugal então é sempre vista com uma colossal resistência. Felizmente que a força e a razão dos pioneiros acaba por banalizar o que era impensável. Foi assim com o regadio em culturas de sequeiro, com técnicas de mobilização de solos, com culturas sobre as quais pouco se conhecia…
Plantar abacates, ou até mangas, como já está a ser testado no Algarve, não significa que possamos generalizar a produção por todo país. Significa sim, que podemos aproveitar condições especiais de uma região com meteorologia favorável, para investir numa das frutas mais procuradas e valorizadas no mundo. A ideia não é competir com abacate da América do Sul (e convém recordar que em países como o México este é um fruto conhecido como ‘ouro verde’, onde existe uma disputa sangrenta entre cartéis de droga pelo controlo das plantações…) mas sim garantir a produção na Europa, com respeito pelas regras de controlo e segurança alimentar e com técnicas agronómicas modernas. Se os custos de produção são mais elevados que noutros continentes? Seguramente, até porque ainda não somos um pais tropical. Mas os consumidores europeus estão certamente dispostos a pagar mais por abacate algarvio (sem ‘sangue’, desflorestação e pegada ambiental gigante no currículo) do que pelo mexicano.
Sim, é preciso resolver o problema do regadio no Algarve para garantir a expansão da cultura. Mas não, não podemos rejeitar a oportunidade de criar valor. Não nascemos ricos. Resta-nos ser inteligentes.
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Fonte: Vida Rural