–
Portugal apresenta uma área de produção praticamente inexistente, mas poderá não estar a percecionar o potencial de exportação que este alimento tem. Inúmeras variedades melhoradas e híbridas desta cultura estão disponíveis para produção, incluindo opções para propagação de forma vegetativa.
O consumo diário de hortofrutícolas está na moda e a tendência espera-se, pelo bem da saúde pública, ser intemporal.
Entre 2010 e 2015, em Portugal, as exportações de frutas, legumes e flores apresentaram um crescimento médio anual de 11%. O ano passado, entre Janeiro e Novembro, comparando com o período homólogo do ano anterior, aumentaram 6%.
Nem todas as tendências de consumo alimentar são passíveis de ser seguidas por todos os consumidores sendo algumas quase exclusivas para públicos com um poder de compra superior. Neste contexto encontramos, por exemplo, o consumo de espargos.
Segundo dados da FAO (Food and Agriculture Organization), a China é o principal produtor mundial tendo como principais destinos o fabrico de conservas e processados de espargos (90% do produzido). Na Europa, destacam-se Espanha e Alemanha.
Portugal apresenta uma área de produção praticamente inexistente mas poderá não estar a percepcionar o potencial de exportação que este alimento tem. Inúmeras variedades melhoradas e híbridas desta cultura estão disponíveis para produção, incluindo opções para propagação de forma vegetativa.
Sob o ponto de vista de consumo, é mais frequente encontrarmos espargos frescos verdes e brancos e espargos brancos em conserva. Considerando as características nutricionais, existem algumas diferenças entre os estes.
1 porção de espargos brancos
20 Kcal, 0g lípidos, 3g hidratos de carbono, 2g de proteínas 2g de fibra e 1g de açúcares de absorção rápida.
1 porção de espargos verdes
25 Kcal, 0g lípidos, 5g hidratos de carbono, 2,75g de proteínas, 2,7g de fibra e 2,4g de açúcares de absorção rápida.
Estes alimentos apresentam baixa densidade energética, elevado teor em fibra (90% insolúvel), são fonte de vitaminas do complexo B, vitaminas A, E, K e folato assim como minerais como cobre e ferro.
A elevada percentagem de fibra insolúvel torna este alimento um alimento pouco fermentável, ou seja, interessante em contexto de obstipação uma vez que esta fibra, este “resíduo”, passa intacto pelo tracto gastrointestinal. As amêndoas apresentam esta característica e comparando com os espargos, 4 unidades de espargos correspondem a 15 amêndoas no que respeita à quantidade de fibra, aproximadamente, 1g.
Contém compostos bioactivos como saponinas, flavonóides, frutanos e aminoácidos. O flavonóide mais abundante é a rutina (60% a 80% do teor fenólico total dependendo da variedade – verdes apresentam maior percentagem). Apenas os verdes contêm clorofila e os brancos apresentam outros compostos fenólicos ausentes nos verdes.
Vários estudos identificam os espargos como alimentos com a vantagem para a saúde, à semelhança de outros vegetais, como alimentos potenciadores da resposta antioxidante do organismo, contribuindo para a prevenção de doenças crónicas não transmissíveis como hipertensão arterial, dislipidemia, entre outras. Segundo o estudo “Food Chemistry”, publicado em 2005, por investigadores da Universidade do Estado de Washington, os espargos apresentam igual resposta antioxidante independentemente das diferenças nos compostos bioactivos. Outros estudos referem que, por exemplo, a presença de clorofila nos espargos verdes lhes confere maior capacidade.
A vitamina E tem função antioxidante, diminui a hemólise das hemácias assim como está relacionada com outras actividades vitais no nosso organismo. A carência desta provoca anemia, degeneração neuronal, decréscimo da criatinémia e aumento da creatinúria. Em casos extremos, lesões musculares, deformações embrionárias, degeneração do miocárdio e necrose hepática.
A vitamina K activa proteínas envolvidas no metabolismo do cálcio. A carência desta vitamina é frequente em casos de malnutrição, antibioterapia prolongada, com a utilização de anticoagulantes e em casos de hemorragias em crianças.
O folato é essencial para uma gravidez saudável, reduzindo o risco de defeitos do tubo neural do feto.
Envolver os espargos com uma polme à base de ovo e pão integral ralado e assar no forno pode ser uma alternativa interessante para introduzir este alimento na dieta.
Dica para o produtor:
O tempo de prateleira dos espargos frescos é de 3 a 5 dias à temperatura ambiente. A sacarose, fonte primária de hidratos de carbono para a maioria das plantas, pode prolongar a vida de prateleira pós-colheita dos espargos. Neste sentido, o acondicionamento em atmosfera controlada, que reduz a perda de sacarosa, aumenta o tempo útil dos espargos para comercialização. Um estudo publicado em 2015 revelou que o armazenamento dos espargos a 2ºC, 90% de humidade e em soluções de sacarose de 3, 5 e 10% resultou em maior concentração de rutina nos espargos, quanto maior a concentração da sacarose, e o aumento de vida de prateleira em de 20 dias. Estude a qualidade sensorial dos espargos em diferentes ambientes e seleccione o mais rentável.
Referências bibliográficas
- O espargo. Disponível em: http://agritec.drapnorte.pt/media/contents/2015/10/28/O_ESPARGO_FINAL.pdf
- Cultura do espargo. Disponível em: http://www.agrotec.pt/noticias/cultura-do-espargo/
- Escott-Stump, S. Physical fitness and stages of adulthood. S Escott-Stump. Nutrition and Diagnosis-Related Care. USA : Lipincott Williams and Willans, 2008, pp. 399-402
- Fan, R. et al. Extraction and analysis of antioxidant compounds from the residues of Asparagus officinalis L. J Food Sci Technol. 2015 May;52(5):2690-700
- Gallagher, M. The Nutrients and their metabolism. L Kathlee and S Escott-Stump. Krause’s Food and Nutrition Therapy. Canada : Mosby Elsevier, 2008.
- Motoki, S. et al. Effects of Various Asparagus Production Methods on Rutin and Protodioscin Contents in Spears and Cladophylls. Biosci. Biotechnol. Biochem., 76 (5), 1047–1050, 2012
- Park, M. Sucrose delays senescence and preserves functional compounds in Asparagus officinalis L. Biochemical and Biophysical Research Communications 480 (2016) 241e247
- Shils, M et al. Modern Nutrition in Health and Disease.