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Aromas do Valado
É um prazer para os sentidos visitar a Aromas do Valado. Em todas as salas, com destaque para a destilaria, se sentem os aromas das plantas que a empresa – instalada numa quinta à entrada da aldeia de Segura, no concelho de Idanha-a-Nova – produz, destila, transforma em produtos de higiene e cosmética e comercializa. Aromas de esteva, eucalipto, alfazema, alecrim, rosmaninho e erva príncipe, todas de produção biológica, própria, de produtores parceiros e do Geopark Naturtejo.
A Aromas do Valado surgiu da vontade de Helena e António Vinagre regressarem à terra e aproveitarem a Quinta do Valado que tinham comprado há 35 anos na aldeia de António – Segura, no concelho de Idanha-a-Nova. Helena conta-nos: “unimos a paixão do meu marido pelo campo e pelas plantas e a minha pela aromaterapia, usando só produtos naturais, como os filhos sugeriram”. A empresa familiar, que hoje tem também uma das filhas – Ana Vinagre – como diretora-geral, dedica-se à produção de óleos essenciais puros, produtos de higiene e cosmética biológica e à formação. “Estudámos e preparámos o projeto durante três anos para que tudo fosse ponderado”, explica Helena, frisando que “as fórmulas e análises são feitas por uma equipa técnica de Coimbra – que assume a Direção Técnica da empresa –, baseando-se em dados científicos, inscritos na farmacopeia portuguesa e cumprindo todas as normas vigentes europeias”.
Candidataram-se a vários programas, entre eles o “Recomeçar em Idanha”, que o município criou para chamar pessoas para aquele concelho do Interior, altamente desertificado, e em 2013 começaram a produzir.
Todas as plantas usadas pela Aromas do Valado são provenientes de agricultura biológica certificada e os processos são artesanais, juntando tradição e inovação, uma vez que a empresa controla toda a cadeia, desde a produção, destilação, produção e comercialização.
Parcerias com Geopark e produtores locais
Na nossa visita fomos guiados por Ana e António Vinagre uma vez que Helena estava na Feira da Idanha a mostrar os produtos desta empresa local.
Escolheram seis plantas tradicionais e abundantes na região: eucalipto, esteva, rosmaninho, alecrim, alfazema e erva príncipe, sendo alguns produzidos na quinta, como “o alecrim, o alfazema e a erva príncipe” e outros “por produtores certificados de agricultura biológica, sendo alguns já resultantes de cursos da nossa Academia”, explica a diretor-geral. A esteva é apanhada na região em várias propriedades rurais, bem como o eucalipto “de que usamos desperdícios das limpezas que são feitas”.
A Aromas do Valado tem permissão para operar no Geopark Naturtejo (que tem certificação Bio), uma vez que, no caso da esteva e do eucalipto, ajuda à limpeza do parque natural, usando os desperdícios da limpeza dos matos.
António Vinagre é consultor florestal (atividade que mantém a par da empresa), conhecendo por isso muitos proprietários com quem a Aromas do Valado tem vindo também a estabelecer parcerias.
Ana diz-nos que “a esteva é um produto em que fomos pioneiros, porque é pegajosa, por isso muito difícil de destilar, custa a arrastar o vapor” e acrescenta: “para produzirmos um kg de óleo essencial precisamos de uma tonelada de planta”.
A Aromas do Valado vende os óleos essenciais, que, como são tóxicos não podem ser ingeridos ou colocados diretamente na pele, têm de cumprir vários regulamentos normas e exibir avisos ao consumidor, nomeadamente do Centro de informação Antivenenos (CIAV). Os produtos são também aprovados pelo Infarmed e têm certificação Ecocert e Sativa.
Naturais, biológicos e ecológicos
Além disso, a empresa aderiu igualmente ao Sistema Integrado de Gestão de Resíduos de Embalagens, da Sociedade Ponto Verde.
Além dos óleos essenciais, para aromaterapia, os produtos comercializados são: “sabões naturais, gel duche, óleos corporais, champôs e perfumes sólidos, bálsamos labiais e tónicos florais, porque aproveitamos a água que obtivemos da destilação”, afirma a diretora-geral.
A somar à marca Aromas do Valado (disponível na loja da quinta, na loja online da empresa, em lojas Bio, nos supermercados El Corte Inglés e Miosótis, bem como na Vida Portuguesa e lojas turísticas de Lisboa, Porto, Algarve, Madeira e Açores), também exportam para vários países, como Espanha, França, Alemanha, Bélgica, Bulgária e Japão. “Criámos a marca Aromas de Portugal destinada à grande distribuição e retalho e está em processo de criação uma outra marca exclusiva para farmácias e parafarmácias”, conta Ana Vinagre à VIDA RURAL.
A empresa vende ainda alguns óleos essenciais a outras empresas de cosmética e produz amenities para hotéis e casas de turismo rural na região.
Além de Helena, Ana e António Vinagre, também o filho (professor de Educação Física) e a mulher colaboram em algumas atividades da empresa. Helena tem ainda esperança que a outra filha que está no estrangeiro regresse também, tal como Ana que já esteve em Espanha. Na produção e apanha das plantas a empresa têm ainda mais dois colaboradores eventuais.
Crescer na exportação é objetivo
Sem descurar o crescimento no mercado nacional, como atesta a criação das marcas exclusivas para supermercados e farmácias, a Aromas do Valado quer “crescer na exportação, que neste momento já representa cerca de 40% das nossas vendas”, diz Ana Vinagre, salientando que “desde há dois anos que as nossas vendas aumentam mais na exportação porque estes são mercados mais maduros, que conhecem os produtos e dão valor à qualidade e processo de fabrico”. A diretora-geral adianta ainda que “ao saberem que temos controlo sobre toda a cadeia têm ainda mais confiança nos produtos”.
Também no mercado nacional a marca tem vindo a crescer, mas Ana Vinagre admite que “temos de dar a conhecer ainda mais a marca”.
A colheita das plantas decorre de entre fevereiro/março e junho, sendo que neste último mês “são plantas que podem ir secas para o destilador”, refere António Vinagre, explicando que “o destilador tem capacidade para 400kg de plantas, que colocamos de manhã e demora cerca de quatro a cinco horas a destilar, retirando depois a água floral e o óleo essencial à tarde”. O óleo arrefece e depois é armazenado em recipientes escuros e opacos, colocados em local fresco “e é embalado ou trabalhado consoante as necessidades”.
Durante a nossa visita, António Vinagre colocou a destilar folhas de eucalipto no destilador pequeno que usam para testes, tipo ‘panela de pressão’, para vermos como funciona o processo.
Procura todo o ano
A empresa produz cerca de 200 kg de óleos essenciais por ano e os produtos são vendidos durante todo o ano, embora a parte destinada à aromaterapia tenha mais procura no inverno “porque com o calor não apetece tanto”. No caso da higiene e cosmética “o pico de vendas é no Natal”, adianta a diretora-geral da empresa.
Ana mostra-nos depois como são feitos os sabões naturais, com azeite, água floral (normalmente de esteva, porque é um concentrador natural de aromas) e óleo essencial, num processo totalmente a frio, ficando a seguir entre 30 a 40 dias a curar, numa sala escura e fresca, “como os queijos”, diz sorrindo.
“Já o champô sólido tem de ter também óleo de abacate e alecrim, que são muito bons para o couro cabeludo, bem como óleo de rícino, e água floral de rosmaninho”, explica Ana, frisando que “estes óleos compramos também a empresas com certificação bio”.
Além dos óleos essenciais, também as águas florais têm propriedades específicas como “a de esteva que é regeneradora e cicatrizante, e a de eucalipto que é anti-inflamatória”, refere António Vinagre.
Na produção de plantas na quinta, de alfazema e alecrim, “temos rega gota-a-gota mas regamos apenas ocasionalmente durante a floração e também algumas vezes no verão depois da colheita para mantermos as plantas sãs”, conta Ana Vinagre.
Academia Aromas do Valado
Durante a investigação e desenvolvimento do projeto Aromas do Valado, Helena Vinagre sentiu dificuldade em encontrar informação e ter acesso a formação prática sobre a produção. Daí acabou por nascer a ideia da Academia Aromas do Valado. Esta ‘escola prática’ proporciona experiências e aprendizagens inovadoras na formação e na qualificação, em temáticas ambientais, biológicas e processos de fabrico tradicionais.Visitas pedagógicas, oficinas e consultoria são algumas das atividades ali desenvolvidas, destinadas à formação de produtores de todo o País na área da destilação, mas também a jovens e população em geral. “Alguns produtores com quem temos hoje parcerias já foram formados na nossa Academia”, afirma Ana Vinagre.
O artigo foi publicado na edição de outubro de 2019 da VIDA RURAL.
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Fonte: Vida Rural