Cadé o pasto?

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Por Bernardo Madeira

Doutorado em Ciências Agrárias e diretor da AGROTEC

Recentemente fui visitado por um amigo, agrónomo brasileiro, que veio conhecer Portugal e a nossa agricultura “de clima temperado”.

Ao atravessar o Alentejo, sob temperaturas sempre superiores a 35ºC, insurgiu-se contra as, e cito: “péssimas condições de vida com que os bovinos são criados”.

Aos nossos olhos, habituados desde criança a ver animais confinados em ínfimos e conspurcados estábulos, a criação extensiva alentejana (que por vezes é uma produção intensiva ao ar livre), pode parecer o supremo luxo que se pode proporcionar aos animais que gozam, assim, de quase infinita liberdade.

Contudo, poucas diferenças há entre o Verão Alentejano, e a inclemência de um deserto marroquino. Precipitação zero, insolação impiedosa e temperaturas tórridas.

Naturalmente, a consequência é uma paisagem de “não pastagem”. A crítica do companheiro brasileiro foi fulgurante!

“—Onde estão as sombras pr’os animais? Onde abeberam?

Como se refrescam? Cadé o pasto?”

Ouvi recentemente o Sr. Engº David Crespo falar do “sonho falhado de um grande Alentejo ganadeiro”.

Com razão concluímos que ter grandes planícies não significa ter grandes pastagens, que têm os mesmos requisitos e exigências de uma boa seara!

Esse sonho ganadeiro, impelido pela facilidade dos subsídios às vacas aleitantes e outras ajudas agroambientais leva ao “despejar” de vacadas nas herdades (lembre-se que o maior núcleo de vacas da raça Cachena, típica do Gerês, está no Alentejo!), e sem elementar gestão das pastagens, ou suficiente preocupação com o bem-estar animal.

A recente abertura de candidaturas a pequenos investimentos na agricultura, focados na agricultura alentejana para mitigar os efeitos da seca sobre os animais, pôs a nu as falhas estruturais da criação de gado no Alentejo, que até a mim envergonharam perante um brasileiro.

Aparentemente a criação animal está, mais do que o mercado de cereais, a conflituar com a cerealicultura alentejana, área que o Governo pretende revitalizar.

Não será fácil inverter o ciclo, quando se torna tão rentável a criação de gado. Porém, numa época em que se ter escrito tanto sobre a floresta, não será também apropriado lembrar a floresta Alentejana?

Nota: Editorial da edição AGROTEC 24

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