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Há quem acredite na produção biológica desde sempre e por convicção. É o caso da Quinta da Serradinha, nas Encostas d’Aire, em Leiria, que foi uma das primeiras produtoras biológicas. Seguindo as pegadas do pai “que em 1978 foi a uma feira de vinhos em Montepellier onde teve o primeiro contacto com vinho biológico e decidiu seguir logo esse caminho”, António Marques da Cruz explica que a produção bio foi certificada em 1994, o primeiro ano em que houve certificação.
“Entendemos a agricultura biológica como a manutenção de um solo com vida, por isso tentamos ter um equilíbrio, aproveitar as ervas autóctones que nascem na entrelinha, por exemplo, porque quando não regamos, o que é o nosso caso, elas não competem com a videira. E mesmo os produtos que podemos usar, como o enxofre e o cobre, usamos em quantidades muito pequenas e o cobre, por exemplo, ajuda planta a proteger-se das doenças e não a combatê-las”, afirma o produtor acrescentando: “quando há equilíbrio e vida no solo, este tem micronutrientes que a videira vai buscar ficando mais saudável e com um fruto mais rico, por isso quando há doenças também não são tão graves”.
António Marques da Cruz refere que “há alturas em que semeamos ervilhaca e tremocilha para dar azoto às plantas”. Todas as ervas da entrelinha são cortadas e deixadas no solo para ajudar a manter a humidade, “fazem parte do meio ambiente e acabam por ser também um auxiliar”. Outra prática que o produtor utiliza é passar um arejador depois do trator, já que este compacta o solo e é preciso depois descompactá-lo para poder arejar.
“Produzo cerca de 15.000 litros por anos e cerca de 90% é para exportação para a Europa, Canadá, Estados Unidos e, em breve, para o Japão”, afirma, salientando que “a aposta na exportação veio não só por ser vinho biológico mas pelas dificuldades que o mercado do vinho tem em Portugal”.
António Marques da Cruz considera que “o caderno de encargos da certificação dos vinhos biológicos [que só surgiu em 2012, contra a certificação de uvas biológicas que começou em 1994]é demasiado aberto” e refere ainda que “existe um movimento na Europa e Estados Unidos dos chamados ‘vinhos naturais’ mas não regras uniformizadas para esta ‘classificação’ e a principal diferença está na vinificação, usando-se filtração em vez de microfiltração e muito menos sulfuroso”.
Também António Lopes Ribeiro, da Casa de Mouraz, conta que “produzimos em MPB desde o início dos anos 90, com certificação desde 1996, e durante dez anos vendemos as uvas a outros produtores mas no ano 2000 começámos a engarrafar com a nossa marca”. O produtor diz ainda que “vamos muito para além da norma, por exemplo, é permitido usar leveduras biológicas mas estamos a trabalhar com fermentações espontâneas”. Desde 2006, que a aposta passou a ser na produção biodinâmica, trabalhando todo o ecossistema em conjunto, com o auxílio de animais e de acordo com os ciclos naturais. Em Mouraz, “temos já praticamente tudo em biodinâmico, pelo que prevemos ter a certificação, pela Demeter, daqui a um ou dois anos”. Lembra que “a agricultura biodinâmica é muito empírica, por isso talvez seja mais fácil falar dela a pessoas mais antigas do que a pessoas com formação em escolas agrárias. Dá o exemplo do pai, que tem 90 anos, e não conhece Steiner [Rudolf Steiner, fundador do conceito de agricultura biodinâmica] e diz sempre de forma natural que é claro que há dias melhores para se fazer esta ou aquela operação no campo”.
Fora do Dão, nas outras regiões onde produz, através de arrendamentos e parcerias, António Lopes Ribeiro refere que “tudo está também em MPB e temos um controlo absoluto das vinhas”.
O produtor considera que “este é o caminho inevitável e ainda temos muito a percorrer: o consumidor tem ‘a faca e o queijo’ na mão, quanto mais exigir mais os produtores têm de mudar. Quando estou a consumir um produto biológico estou a apoiar uma causa”. E defende: “o terroir só existe na verdade de for em produção biológica, porque senão o vinho não tem caráter”.