«A tecnologia alimentar é uma área fundamental da zootecnia na transformação do produto»

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Ana Sofia Santos, engenheira e presidente da Direção da Associação Portuguesa de Engenharia Zootécnica (APEZ), fala da organização que nasceu em 1988. Sediada na Universidade de Trás os Montes e Alto Douro (UTAD), atualmente conta com cerca de mil sócios inscritos na base de dados. A APEZ tem várias áreas de atuação, sendo que a mais visível é nas área de divulgação da zootecnia e de organização de eventos técnicos e científicos. A associação organiza anualmente várias iniciativas, sendo que o congresso de zootecnia é uma das mais importantes.

Entrevista e Foto: Inês Ribeiro Dias

AGROTEC: Fale-me sobre o contexto em que foi criada a APEZ e que objetivos tem.

Ana Sofia Santos: A APEZ foi criada há 30 anos, em 1988, na altura do primeiro congresso de Engenharia Zootécnica, realizado nos Açores. Desta primeira reunião de profissionais ficou a certeza de que era necessário haver uma entidade que representasse os zootécnicos e que defendesse os seus interesses enquanto profissão, que defendesse a sua atividade, e que colaborasse igualmente no ensino e nos programas de ensino. Atualmente a APEZ está sediada na UTAD.

AG: Quantos elementos fazem parte da associação?

ASS: Os corpos sociais são compostos por 17 elementos, 7 na direção, 5 no conselho fiscal e 5 na mesa da assembleia. Quanto aos sócios a associação tem várias tipologias. Atualmente a APEZ tem cerca de mil e duzentos inscritos na base de dados, sendo que destes, mil cerca de trezentos e cinquenta têm as cotas em dia. Dos trezentos e cinquenta aproximadamente cem são estudantes e duzentos e cinquenta são sócios efetivos.

AG: Que tipo de atividades se propõe a desenvolver a associação?

ASS: A APEZ tem atualmente várias áreas de atuação. A mais visível é na divulgação da zootecnia e a organização de eventos técnicos e científicos. A associação organiza anualmente várias iniciativas. O congresso é uma das mais importantes, mas temos também jornadas técnicas e simpósios em várias áreas. Alguns dos exemplos mais recentes são as jornadas de avicultura e as jornadas de nutrição e alimentação dos animais de companhia ( PetFeeding), realizadas em 2017. Outros exemplos são as jornadas de Equinos, as jornadas de cunicultura que já organizámos juntamente com a Associação Portuguesa de Cunicultura (ASPOC) por duas ocasiões. Além disso organizamos igualmente atividades mais pequenas, workshops mais técnicos, simpósios. Temos também iniciativas que efectuamos juntamente ou no âmbito de algumas feiras da área, por exemplo as jornadas do Porco Bísaro que são realizadas na feira de Vinhais. Além disso estamos presentes em várias feiras a divulgar quer a associação quer a zootecnia. A APEZ tem também uma vertente de âmbito profissional atuando, na defesa dos interesses do engenheiro zootécnico e da zootecnia como profissão.

AG: Como é que decidem o tipo de eventos que organizam?

ASS: Muitas das nossas organizações são já periódicas, e vão na sua 4ª ,7ª ou 20ª edição, pelo que essas estão decididas à partida, será apenas uma questão de definir datas. A periodicidade depende das atualizações que existem nas diferentes áreas, e que, portanto justificam uma nova edição da organização, a periodicidade média será provavelmente de 2 em 2 anos para a maioria das nossas organizações. Tentamos sempre trabalhar com colegas que estão ligados à área, quer colegas que trabalhem no campo, quer colegas da área académica. E trazer oradores tanto quanto possível internacionais, para trazer opiniões e experiências diferentes, e tentamos sempre trazer oradores que tenham uma experiência que sejam uma mais–valia para partilhar. Para além disso, estamos sempre abertos a novas ideias a serem abordadas e qualquer sócio pode propor uma área/organização que ainda não tenha sido tida em conta.

AG: Este tipo de atividade tem-se mostrado útil para os alunos?

ASS: Sim. O feedback em termos de participação por parte dos alunos tem sido muito positivo, embora sempre aquém das nossas expectativas. Os alunos que vão às nossas organizações mostram-se muito ativos e participativos e dão-nos sempre o feedback, que geralmente é positivo. O que nos preocupa é o número representativo de alunos, porque são poucos. Na generalidade são poucos os alunos que têm consciência de que podem fazer alguma coisa para promover uma participação ativa na profissão. Afinal, eles serão os próximos Zootécnicos, e sobre eles recai o futuro. E esse é o problema, fazê-los perceber de que a sua participação é importante, e aí e não sabemos o que podemos fazer para termos mais alunos nestas iniciativas, ou para fomentar uma participação mais ativa.

AG: São para continuar nos próximos anos?

ASS: As atividades são claramente para continuar nos próximos anos, até porque surgem todos os anos novos temas para abordar. Para além disso, temos já agendadas para 2019 as II Jornadas de Avicultura, as IIs Jornadas PetFeeding, e outras iniciativas . E em 2020, teremos o Congresso Anual da Federação Europeia de Ciência Animal a nosso cargo, o que será uma oportunidade única de mostrar a Zootecnia que se faz em Portugal, e a nossa produção pecuária.

AG: Como é que escolhem os temas?

ASS: Muitos dos temas são periódicos e por isso já estão definidos, mas há temas novos que surgem. Por exemplo o ano passado fizemos o PetFeeding 2017 – I Congresso Internacional de Nutrição e Alimentação de Animais de Companhia, que foi uma proposta de uma sócia que está a trabalhar na área, e nós achamos pertinente e foi um sucesso.

AG: A APEZ tem realizado diversas atividades, agora mais precisamente o Congresso de Zootecnia que vai na 20ª Edição. O que trata este cartaz?

ASS: O Congresso não teve uma temática chapéu, o enfoque foi o 20:30:40, o 20º congresso, 30 anos de APEZ e 40 anos de ensino de zootecnia em Portugal. Tivemos a nossa palestra nacional com o professor Philippe Chemineau, que é um marco a nível mundial na zootecnia, é uma pessoa com um conhecimento técnico-científico extraordinário e foi um privilégio tê-lo connosco este ano. Tivemos também o cuidado de trazer colegas zootécnicos mais jovens portugueses, uns a trabalhar no país, outros no estrangeiro. O objetivo foi mostrar que há um grande leque de jovens zootécnicos que estão ao mais altos níveis, quer a nacional quer a internacional. Os temas que abordámos no Congresso passaram por temas mais tradicionais como a Nutrição que é uma área chave na Zootecnia, e onde se trabalha bem há muitos anos, e temas mais “quentes” como por exemplo os que foram abordados na sessão “Novas Fronteiras na Zootecnia”.

AG: Porquê a escolha destes temas para este congresso?

ASS: Para o congresso, a escolha dos temas é mais complexa porque tentamos sempre que os temas sejam interessantes, seja do ponto de vista técnico, científico ou profissional. Uma vez que o Congresso de Zootecnia pretende também ser o Fórum de discussão dos trabalhos que estão a ser efetuados na área, muitas das sessões dependem das áreas onde recebemos submissão de trabalhos.

AG: Este tipo de evento abre portas para que os alunos possam ter contacto com as várias vertentes do curso?

ASS: Sim, a zootecnia trabalha do “prato ao prado”, a nossa área de atuação é muito vasta. E um dos problemas é que os alunos durante a sua formação não se apercebem do impacto que podem ter, enquanto profissionais, nas diferentes áreas em que podem trabalhar. Porque independentemente de trabalharem junto dos animais, ou na produção, ou na segurança alimentar, o trabalho desenvolvido pelo engenheiro zootécnico influencia o produto final que chega ao consumidor.

AG: Para os próximos tempos quais são as atividades que a associação pretende desenvolver?

ASS: Ainda este ano vamos ter umas jornadas técnicas na área de lacticínios. Em maio de 2019 vamos ter as segundas jornadas de avicultura, e em outubro as segundas jornadas do PetFeeding. Teremos ações na área da Equinicultura. Colaborações com outras associações, com a ordem dos Engenheiros. . A periodicidade dos eventos vai ser mantida e vamos trabalhar também na organização do congresso europeu de ciência animal, que será um marco. Este congresso congrega todos os investigadores a nível internacional que trabalham na ciência animal, que em média tem 1700 participantes. Em Portugal foi organizado pela última vez em 1987, e tenho a certeza que será uma oportunidade única para Portugal mostrar ao resto do mundo quer a ciência que desenvolve a nível de animal science de zootecnia, quer a produção animal, mostrando os produtos autóctones, a produção, as visitas técnicas.

AG: Quais são os temas que vão estar em foco nos próximos eventos?

ASS: A questão do ensino da zootecnia é muito pertinente. Um desafio deixado por um sócio pareceu-nos muito interessante, que é fazer o levantamento e a discussão de como o ensino de zootecnia tem sido feito nos últimos 40 anos, como é que tem evoluído e como é que terá que evoluir. Ver a possibilidade de haver uma linha condutora em todos os cursos. Outra questão é o marketing e branding, que é um tema pouco explorado, consideramos ser uma área interessante e estamos já a trabalhar em atividades a realizar. E a Comunicação: comunicar mais e melhor, trabalhar a imagem da Zootecnia e da Produção animal, esclarecer mitos e desinformação. Essa é uma prioridade para nós.

AG: Qual é a sua visão sobre as práticas de bem-estar animal em Portugal?

ASS: A legislação na área do Bem-estar em Portugal existe e é clara, aliás, sendo Portugal um estado membro da UE tem de transpor a legislação europeia para a nacional. A ideia de que a sociedade tem de que a produção animal principalmente a intensiva está intimamente ligada a más práticas na área do Bem-estar animal é completamente errada. Não podemos afirmar que não existem maus exemplos, existem em todo o lado, em todas as áreas, e a produção animal não será exceção, mas os bons produtores cumprem a lei. A legislação é clara, concisa e direta na maioria das espécies animais, que garante o bem-estar dos animais.

AG: Qual é importância da tecnologia dos produtos animais cada vez mais como aliada à Zootecnia?

ASS: A tecnologia dos produtos animais é uma das áreas que e a zootecnia trabalha. Da carcaça do animal até ao bife ou à alheira vai um mundo de trabalho onde o Zootécnico atua. Nesta área a inovação tem sido o mote, e a investigação tem dado muitos frutos. Toda a tecnologia em roda dos enchidos por exemplo está atualmente muito desenvolvida, seja no desenvolvimento de novos produtos, seja na área da Segurança Alimentar. Temos novos produtos a ser desenvolvidos, já existe presunto de coelho ou de ovinos. A tecnologia alimentar é uma área fundamental da zootecnia na transformação do produto que chega ao consumidor.

AG: Relativamente à legislação e à fiscalização no setor,qual é o ponto de situação neste momento?

ASS: Como já referi, a área de atuação da Zootecnia é muito vasta, pelo que a resposta não é fácil. Existe na generalidade fiscalização nas diferentes vertentes, penso que , no entanto como em tudo há falhas e devemos melhorar alguns aspetos.

AG: Considera que houve uma evolução em Portugal em termos de medidas ambientais?

ASS: Houve uma evolução, hoje em dia há uma preocupação muito grande com as questões ambientais na generalidade e a Zootecnia não é exceção. Para dar um exemplo, atualmente alimentamos os animais de forma muito mais eficiente. A investigação feita sobre a alimentação dos animais por forma a diminuir as perdas que possam ser nocivas para o meio ambiente é significativa. Outra área onde se tem trabalhado muito é na área dos efluentes animais. Portanto sim, as preocupações ambientais têm sido um dos principais enfoques da zootecnia nos últimos anos e continuarão a ser no futuro.

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