Por Luís Souto Barreiros | Gabinete de Planeamento, Políticas e Administração Geral (GPP)
A cultura do milho em Portugal, e dos cereais em geral, sofreu alterações profundas nas últimas décadas.
O milho grão ocupava, no final dos anos 80, mais de 200 mil ha, tendo vindo gradualmente a diminuir, atingindo em 2016, cerca de 90 mil ha. No caso particular do milho forrageiro, intimamente ligado à bovinicultura leiteira, a área, a nível nacional, mantem-se estável à volta dos 80 mil ha. Em virtude dos novos regadios a cultura do milho tem-se expandido para novas áreas, em particular no Alentejo. Esta nova disponibilidade de água, associada à evolução tecnológica, levou a que a produtividade média atingisse as 8 ton/ha.
Portugal é historicamente dependente da importação de milho, mas, se os níveis de autoaprovisionamento eram de 45% em 1989, a diminuição da produção e o aumento do consumo conduziram a um valor atual particularmente baixo (cerca de 31%).
Esta tendência de diminuição da produção que se verifica no sector dos cereais em geral e no milho em particular, levou o governo a constituir o Grupo de Trabalho de Cereais com a missão de propor uma estratégia nacional para a promoção da produção de cereais. O diagnóstico efetuado permitiu identificar um conjunto de pontos negativos e positivos a ter em conta na Estratégia.
O setor apresenta debilidades decorrentes da elevada concorrência de produtores de países terceiros não sujeitos às mesmas regras e custos. Os elevados custos de transporte e da energia, os custos administrativos, a pouca valorização da qualidade dos cereais constituem outros problemas que são necessários enfrentar. No futuro, a adaptação às alterações climáticas, é um fator a ter em conta.
Existem elementos positivos a potenciar como é o caso da capacidade de organização da produção, com qualificações técnicas elevadas, da elevada qualidade sanitária da produção nacional, da existência de indústrias instaladas em Portugal com capacidade para escoar a produção e do investimento em tecnologias relacionadas com a agricultura de precisão.
O setor está igualmente bem posicionado para contribuir para a manutenção da atividade agrícola em todo o território, com evidentes benefícios ao nível do desenvolvimento económico, da paisagem e da promoção e preservação da biodiversidade.
Outra área de oportunidade relaciona-se com a maior valorização por parte do consumidor da Origem Portugal, observando-se uma tendência da indústria, distribuição e consumidores por compras de proximidade e com rastreabilidade definida. Neste quadro, surgem novos mercados de que são exemplos o milho pipoca, o milho para broa ou os cereais BTP. Finalmente, o Plano Nacional de Regadios cria condições para a expansão da cultura de cereais.
Assim, a Estratégia proposta tem nas Organizações de Produtores (OP) um dos seus principais pilares. As OP encontram-se numa situação privilegiada para apoiarem os produtores em várias vertentes essenciais à melhoria da eficiência produtiva bem como, para, em parceria com a indústria desenvolverem uma oferta adequada às necessidades do mercado. Paralelamente à organização interna da produção, a organização da fileira como um todo é essencial para que o setor crie valor de uma forma sustentável, ajustando-se às necessidades do mercado numa perspetiva de ganhos mútuos. Neste aspeto o Interprofissional surge como uma ideia incontornável para promover a comunicação dentro da fileira.
Outra área essencial para o reforço da competitividade do setor é a inovação e a transferência do conhecimento para a produção, permitindo produzir mais, com uma utilização de recursos mais eficientes e com melhor qualidade.
Por fim, a PAC, como principal instrumento de apoio à estabilização do rendimento dos agricultores e de incentivo ao investimento tem um papel fundamental no sucesso desta Estratégia. É necessário garantir, nos atuais e nos novos instrumentos a definir no âmbito da PAC pós 2020, medidas ajustadas às necessidades do sector numa linha coerente e consistente ao longo do tempo com todos os aspetos da Estratégia.
Nota: Artigo publicado na edição impressa do Suplemento Grandes Culturas 10.
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